3.12.03

Perdidos e achados

Uma das graças disto de ter um blog é a gente entreter-se a descobrir de onde nos vêm os visitantes. Se alguns itinerários são óbvios – os que vêm dos blogs mais ou menos do mesmo género – outros, traçados pela grande loteria de Babilónia que são os motores de busca, vêm aqui ter nitidamente extraviados. Ontem, por exemplo, o artigo das "Mentiras e Porcarias" atraiu, através do Google, um visitante que andava à procura de… porcarias! Denunciado por esta simpática palavra-chave, eis o "Sangue Suor e Ideias" na categoria dos sites pornográficos. Vendo bem as coisas, sangue… suor… confesso que ainda não me tinha ocorrido.

Os motores de busca são o equivalente electrónico da associação livre psicanalítica. Como provam os visitantes desencaminhados que acabam por esticar a visita, extraviar-se é um dos prazeres da net – os motores de busca apenas introduzem método, aparência de objectividade, nesses ciberdevaneios.

Para quem, como a maior parte dos publicitários, passa a maior parte do tempo à frente do computador, os motores de busca tendem a tornar-se uma muleta inevitável para toda a actividade mental. Cada hipótese, cada fantasia que nos dá na telha pode ser imediatamente verificada, "para ver o que dá". Normalmente não dá nada – e ainda bem. Porque a tentação é cada vez mais substituir pelo motor de busca a necessidade de pensar. Precisa de uma ideia? Vamos ver o que é que há no Google.

Não é nada que já não tenha acontecido antes. Muito antigamente, ao conceber uma peça de comunicação, os publicitários tinham que imaginar as palavras e as imagens. Como as imagens eram inventadas nesse processo, era preciso fazer um boneco. Hoje os bonecos já não se fazem, procuram-se nos bancos de imagem. E quando se dá o caso (que se dá muitas vezes, acreditem) de o boneco encontrado não conferir com a ideia, nada mais simples: muda-se a ideia.

Parece-lhe a cauda a abanar o cão? A mim também. Mas é assim que as coisas funcionam nesta nossa Era dos Motores de Busca.

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