29.6.06

A língua europeia é muito traiçoeira



"Temos busca na língua local", explicou ao Diário Económico Eckard Pfeiffer, Presidente da Accoona, um motor de busca europeu desenvolvido nos EUA.

Mais nos informa que o nome da empresa tem origem numa expressão swahili que significa "não te preocupes, sê feliz".

Assim sendo, daqui envio à Accoona os meus sinceros votos de êxito em terras da Europa. Em Portugal, pelo menos, a notoriedade está garantida.

25.6.06

Novas assombrações II

A pedido do Edie Falco, que comentou o post anterior, segue a minha opinião sobre o novo enredo com leões fantasmas.

Há uns anos, numa reunião de criativos de uma multinacional, por acaso lá em Cannes, estávamos todos contritíssimos a dizer mal dos fantasmas e de quem os cria. De repente chegam notícias do Palais: um dos “nossos” directores criativos ia quase certamente ter um Leão. Ainda empolgado pela discussão em curso, o tal director criativo (de Singapura, se não me engano), que era um rapaz muito novinho e talentoso, entre radiante e ruborizado confessa: o trabalho era um fantasma, criado por uma dupla quase à sua revelia. O que fazer agora?

As opiniões dividiram-se. A maior parte de nós, incluindo o “senior management” presente, preferiu ficar-se pelos parabéns calorosos, e assobiar para o lado em relação ao que discutíamos cinco minutos antes. Mas houve quem desse a ideia de a agência devolver o prémio. Várias pessoas – eu inclusive – defenderam com força essa opção. Alguns, como o próprio e angélico premiado, puramente por razões de coerência e ética. Mas a maior parte, com o profissionalismo do Edie Falco, estava a pensar no aproveitamento mediático que se poderia tirar de um gesto tão desprendido.

E, no entanto, olhando para trás, volto a pensar que esse tipo de jogos é péssimo para as agências – mesmo que os resultados imediatos sejam esses que o Edie aplaude. As “ferramentas de mercado” a que se refere são (já que estamos no Mundial) como faltas e simulações no futebol. Se uma falta bem cavada levar a um gol da minha selecção, quero lá saber se era tudo teatro. O que importa é ganhar, ter visibilidade, e afinal é só um jogo, né?

Acontece que, mesmo descontando qualquer aspecto ético (o que levaria para uma discussão meio propensa à hipocrisia e à dor de cotovelo), para os anunciantes a publicidade não é só um jogo.

Há uns tempos houve neste blog uma discussão com o Henrique Agostinho sobre a utilidade dos prémios de publicidade. O ponto de vista dele, que é o de muitos anunciantes, era que os prémios fazem mais mal do que bem. Distorcem o mercado e dão às agências um critério errado de qualidade publicitária. Eu defendia o contrário. Acho que prémios como Cannes, com todos os seus defeitos, fazem avançar a indústria, e por isso são bons para os anunciantes. Mas era preciso que as possibilidades de fraude e manipulação em proveito exclusivo das agências, como a que salta desta história da Giovanni FCB, não fossem tão imprudentemente expostas pelas próprias agências.

A gente sabe que há hoje uma enorme relutância dos anunciantes em pagar às agências os valores que elas precisam para manter os seus níveis tradicionais de serviço. A percepção de muitos clientes é que as agências são máquinas esbanjadoras, um luxo caro demais para os tempos que correm. Os festivais, que não são baratos, fazem parte desse suposto esbanjamento. Se as histórias que circulam sobre eles não reforçam a sua utilidade para os anunciantes, mas ao contrário o seu lado extravagante, narcisista, um jogo cintilante cheio de “ferramentas de mercado” de legitimidade duvidosa, a prazo as agências estão a dar um tiro no pé.

22.6.06

Mais assombrações

Não passa um ano sem que o festival de Cannes seja assombrado por mais uma história de fantasmas.

21.6.06

Eles andam aí

Há uma revolução em curso na comunicação de marketing. Uma revolução tão discreta, e de aparência tão inofensiva, que desconfio que a maior parte das agências de publicidade e marketing directo nem sequer deu por ela.

É a revolução dos links patrocinados. Com esses pequenos anúncios, modestos como os classificados dos jornais, todas as possibilidades do marketing directo, mesmo as mais sofisticadas, estão ao alcance de qualquer anunciante. E qualquer é mesmo qualquer: a mercearia do bairro, o fotógrafo de casamentos e o contabilista da margem sul já podem optimizar headlines em função dos resultados de split tests, comparar taxas de resposta ou taxas de conversão e comunicar de forma relevante com diferentes segmentos de mercado, tudo com uma precisão que a maior parte dos grandes anunciantes nem sonha ser possível. E tudo isso com um investimento irrisório, em comparação com publicidade "normal", investimento cujo retorno, de resto, pode ser avaliado a cada passo.

Não admira que os primeiros a aderir a essa ferramenta tenham sido pequenas empresas, ou pelo menos empresas que sempre se preocuparam muito mais com as vendas puras e duras do que com a criação de marcas e outras modernices do género. Mas agora já não é assim: marcas como a Optimus, a Cofidis, o Sapo, o Citibank já aderiram aos quadradinhos. E o natural é que comecem a comparar os resultados totalmente mensuráveis que vão tendo aí com as ferramentas que nós, publicitários “tradicionais”, lhes oferecemos. É caso para estarmos atentos.

19.6.06

Afinal é verdade

Se fôssemos julgar pelos constantes aumentos dos investimentos publicitários "a preços de tabela", a muito profetizada diminuição da importância da televisão pareceria uma tendência distante, a que o mercado português não liga a mínima. Mas de vez em quando lá aparece alguém, como a Marktest, citada hoje no Meios e Publicidade, a confirmar que, sim senhor, até os portugueses andam a ver menos televisão.

15.6.06

Não se pode ter tudo



Soube pelos jornais que a Nestlé resolveu mexer no logo que identifica os seus iogurtes numa tentativa de dar maior saliência à marca.

Compreendo bem o problema, dado que, em exercícios que por vezes realizo com os meus alunos, repetidamente constato a reduzida notoriedade espontânea da Nestlé enquanto marca de iogurtes - muito abaixo do que a sua taxa de penetração faria prever.

Mais especificamente, é raríssimo alguém associar a marca Nestlé a iogurtes. Às vezes é mencionada Sveltesse, uma sub-marca da Nestlé, outras, ainda a Longa Vida, que a empresa comprou há longo tempo e hesita em eliminar definitivamente.

Fala-se hoje muito das vantagens das marcas umbrella, ao ponto de a Unilever ponderar vir a usar também o nome da empresa como marca para o consumidor associada às familiares Skip ou Vaqueiro. O mais atraente nesta opção é a possibilidade de aumentar a eficiência da publicidade, dado que todos os produtos de um dado portfolio, mesmo os mais insignificantes, beneficiam da projecção alcançada pela marca institucional.

Mas talvez seja útil notar, por uma vez, os seus inconvenientes, sendo o essencial que quando se alarga o âmbito de uma marca reduz-se a sua força em cada uma das suas áreas específicas de actuação.

Danone significa iogurtes para toda a gente. E Nestlé, o que significa? A marca Nestlé tem associada a si conotações valiosas de amor familiar, nutrição saudável e responsabilidade, tudo ideias maravilhosamente condensadas no seu logotipo.

É fácil entender que isso atribui um valor automático a tudo o que a Nestlé propõe ao mercado, mas também que condiciona o domínio do que lhe é permitido, pois nem todos os produtos alimentares combinam bem com tais conceitos.

O reverso da medalha, porém, é que, em caso de dúvida, a palavra Nestlé remete prioritariamente para as farinhas lácteas que estiveram na sua origem. A pluralidade de sentidos inerente à marca Nestlé não tem só vantagens. O seu significado dilui-se por todo o vasto território que ocupa, uma fragilidade que a torna especialmente vulnerável à concorrência de marcas focalizadas numa área de produto muito específica.

3.6.06

Eu não assino

Nem de propósito: depois do post do outro dia sobre o Programa de Relacionamento com os Clientes do sindicato dos professores , recebi o seguinte email, que publico para mostrar que este é um blog democrático, aberto a todas as correntes de opinião, etc. Mas tenho muita pena, Rita: desta vez o Presidente da República vai ficar sem o meu autógrafo.

"Caros amigos,

está a circular na internet uma petição destinada ao Sr. Presidente daRepública que dá conta de afirmações insidiosas proferidas pela Ministra daEducação que denigre ainda mais a imagem social e a dignidade profissionaldos professores do nosso país.Cliquem no endereço abaixo, leiam o texto, assinem e divulguemhttp://www.petitiononline.com/piprep/petition-sign.html?

Rita Seco

http://www.aofuscolusco.blogspot.com/"

Inspirador

Se anda com algum brief encravado, recomendo uma visita urgente ao Centro Cultural de Belém para ver a exposição dos vencedores do Prémio Braun de Design. Garanto que vai sair de lá cheio de ideias. Eu saí.

1.6.06

Viral

Deu na Veja da semana passada:

"A campanha eleitoral pela internet passou a integrar a planilha de custos dos marqueteiros: 100 000 reais no caso de campanhas para governador. O pacote inclui defesas contra ataques de adversários e a difusão de denúncias por meio de emissários não identificados. No dicionário dos marqueteiros já há até nome para essas baixarias: campanha viral".

Está a ver, professor Carrilho? Estas coisas não acontecem só por aqui.