4.8.11

A desprezada investigação com estudos de caso



Há em Portugal uma estranha sobre-valorização dos métodos quantitativos na investigação de gestão e marketing, bem visível na nada subtil pressão que os alunos de mestrado sofrem para privilegiá-los na elaboração das suas teses.

Nada na teoria ou na prática da gestão justifica esse enviezamento. Por muito úteis que sejam, os métodos quantitativos têm limitações conhecidas e evidentes, de sorte que não só muita da mais relevante produção teórica internacional é de cariz qualitativo como no dia a dia da atividade empresarial é a esse tipo de pesquisa que mais frequentemente se tem que recorrer.

De modo que a preferência pela análise estatística e econométrica ficará provavelmente a dever-se mais ao facto de os professores se sentirem aí mais à vontade do que à preocupação de fomentar competências úteis para a vida profissional.

Acresce que a investigação qualitativa é mais exigente para quem a faz, dado requerer mais cultura geral, mais seriedade no estabelecimento de conclusões e na sua apresentação e maior proficiência no desenvolvimento de argumentos complexos.

Reconhecendo eu as minhas próprias limitações no que toca a metodologias qualitativas, tenho nos últimos tempos procurado suprir essa falha.

"A Arte da Investigação com Estudos de Caso", de Robert E. Stake, proporciona uma valiosa introdução a uma técnica de investigação ao mesmo tempo tão relevante e tão mal compreendida, lamentando-se apenas a medíocre qualidade da tradução portuguesa editada pela Fundação Gulbenkian.

2 comentários:

Ricardo de Carvalho disse...

Não podia concordar mais consigo. Aliás, senti a referida "nada subtil pressão" por parte da U. Algarve, quando fui seu aluno. Realmente, é uma falsa ideia a de que uma tese (ou outro estudo qualquer) fique mais completo com estudos quantitativos. Como dizia um antigo professor meu de contabilidade, "o papel aceita tudo"...

Ricardo de Carvalho disse...

Concordo inteiramente consigo. Senti a referida "nada subtil pressão" aquando da frequência do mestrado da U. Algarve. É, de facto, uma falsa impressão a de que uma tese (ou qualquer outro estudo) seja mais útil apenas e só por conter estudos quantitativos. Como dizia um antigo professor meu de Análise de Projecto, "o papel aceita tudo"...