"O Ministro da Economia - e o Governo - depois de verem muitos dados sobre o diagnóstico e sobre esta ideia - e a solução - decidiram avançar. Escolheram dois temas: as energias renováveis, uma área onde o país, inesperadamente, lidera, e os jovens talentos, pessoas que ajudaram, lá fora, a mudar a maneira como se pensa Portugal. Estas são ideias do ministro, é estratégia política."Na minha maneira de ver isto não é mera estratégia política, é estratégia de comunicação. Logo, o que Bidarra eufemisticamente me parecer insinuar aqui é que o ministro Manuel Pinho é o autor da estratégia de comunicação da campanha de promoção do país - digamos assim - que o Governo pôs no ar no dia da assinatura do Tratado de Lisboa.
Percebe-se: criticado em vários quadrantes pela fragilidade e inconsequência da sua acção governativa, ocorreu a Pinho brindar-nos com uma campanha de publicidade. Não é caso virgem.
Olhando para as peças que integram a campanha vemos lá - em segundo plano e quase só para fazer bonito - algum mar e uma pouca de areia, mas o que mais ressalta são as chamadas "personalidades": um futebolista, um treinador e uma fadista mundialmente conhecidos. Para a trilogia fado-Fátima-futebol estar completa falta a vidente, de que actualmente não possuímos nenhum espécime com repercussão internacional.
Completam o ramalhete algumas pessoas que, sem desprimor para os próprios, pouco ou nada contam em termos de saliência ou projecção aquém ou além fronteiras. E o que é que tudo isto tem a ver com o conceito "Europe's West Coast"? Mistério.
Um país que sente a necessidade de agitar sistemática e freneticamente uns quantos talentos de renome mundial mais não faz senão chamar a atenção para a escassez de exemplares apresentáveis. O caso torna-se mais grave quando a gente do futebol e do fado é o melhor que há para exibir.
Finalmente, a campanha diz ainda a quem a quiser ouvir que Portugal tem cantores, desportistas e até, imagine-se! um cientista, mas não um fotógrafo suficientemente bom para usar na campanha. Estamos, pois, de volta à saloice que há escassos anos levou o Governo português a colocar a foto do Figo à entrada de uma exposição dedicada à cultura portuguesa em Madrid.
Tal como aqueles anúncios e suplementos ridículos que o governo português insiste em inserir de vez em quando no Economist, esta campanha posiciona-nos de facto ao nível do Azerbeijão, sem ofensa para esse país maravilhoso.
Que espécie de efeito se espera de iniciativas como esta? É difícil dizê-lo se optarmos pela análise racional do fenómeno - e aqui entramos decidamente na parte mais desagradável de tudo isto, que é a da falta de critério com que sistematicamente se esbanja o dinheiro dos contribuintes.
Na semana passada, a cidade de Lisboa deparou-se ao acordar com telas gigantescas colocadas em locais estratégicos exibindo os familiares retratos de Cristiano Ronaldo e Mourinho, uma iconografia que em si mesma já enjoa. Algumas pessoas viram também a campanha nos exemplares de algumas publicações estrangeiras que vêm para Portugal, ignorando que esses anúncios não aparecem nas edições distribuídas noutros países.
Quase todos acreditam que a campanha está a passar com a mesma força, ou até com maior intensidade, no estrangeiro. Estão redondamente enganados: trata-se de uma campanha para português ver, pela simples razão de que o Estado português não dispõe de uma verba suficiente para veiculá-la em larga escala nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França e na Alemanha, para não ir mais longe. Na verdade, nem sequer tem dinheiro para fazer uma campanha de razoável impacto em Espanha.
De modo que decidiu cingir-se a Lisboa e arredores e convocar a imprensa para ajudar a criar uma ilusão de grandiosa ambição internacionalista. Nestas condições, como pode o Ministro da Economia pretender que "o objectivo é reposicionar a marca e aumentar a notoriedade de Portugal no estrangeiro"?
O menos que os jornalistas portugueses poderiam fazer seria perguntar-lhe como tenciona ele medir objectivamente o contributo desta campanha para a concretização desses objectivos.
5 comentários:
Vendo as lonas recorda-me a Rosa Mota e o seu adorável sotaque dizendo "soares é fixe", enquanto no canto superior direito do ecrã um relógio conta os segundos para o fim do espaço reservado.
O que vemos por Lisboa é pura campanha eleitoral feita às custas da suposta promoção externa.
Só me falta perceber: o que anda a oposição a fazer para deixar que o PS os cilindre com dinheiros públicos, sem sequer soltar um queixume?
Brilhante texto de João Pinto e Castro!
-----------------------------
Não gosto de falar dos meus “colegas”. Entendo que entre “pares” deve haver respeito e consideração, goste-se ou não do trabalho produzido. Mas não me contive quando vi (como todos os Lisboetas e Portistas) a campanha Portugal – Europe’s West Coast fotografada pelo fotógrafo de moda inglês Nick Knight que, desde 13 de Dezembro de 2007, esteve por todo o lado.
Afinal cumpre-se um velho “destino” muito português: «o que vem de fora é que é bom», e “santos da casa não fazem milagres”...Parece que para o ministro Pinho ( e também para o “criador” do conceito, Pedro Bidarra da BBDO) não existem talentos em Portugal para fotografar uma campanha que tem por base retratos e paisagens. Pode-se dizer que afinal precisamos de contratar a peso de ouro (fala-se em 800 mil euros) um fotógrafo como o Nick Knight, para realizar o trabalhinho...Pois é. Ficamos todos de boca aberta com esta realidade. Promove-se Portugal (?) com um fotógrafo estrangeiro! Não, não é dor de cotovelo. É tristeza e desilusão pelo espírito “saloio” que impera nos nossos governantes. Quer dizer, os retratados são a “imagem” do Portugal moderno, que vence lá fora (e cá dentro), mas o fotógrafo tem que vir desse “lá de fora”, não fora a “prata da casa” não levar a tarefa como deve de ser. Verifiquei, após uma extensa pesquisa na net que existe um mal estar geral junto da opinião pública (quantas vezes divergente da opinião publicada), patente nas dezenas de blogues que consultei.
Não é de admirar que os portugueses se sintam maltratados (mais ainda do que têm sido), por mais esta argolada do sr. ministro. Já tinhamos ficado todos mal impressionados com a campanha ALLgarve, só faltava agora termos 2ª dose. Desculpem-me a linguagem sarcástica, mas não me posso conter. Citando o meu colega Luiz Carvalho, no seu Blogue Instante Fatal: “Claro que como fotógrafo gosto de malhar nos génios da estranja, bem pagos e famosos. Quem não gostaria de ter feito aquelas fotochachadas pagas a peso de ouro ? Logo, os anticorpos saltam e não se fala de outra coisa no meio da fotografia portuguesa. Dantes tinham inveja do António Homem Cardoso, agora roem-se com o Nick! Digamos que em matéria de inveja os fotógrafis portugueses internacionalizaram-se !”
Depois devemos questionar a eficácia ( e porque não a qualidade) desta campanha. Na realidade os retratos quase não “retratam”, tornam-se confusos. E depois, misturados com as paisagens, ficam ainda mais estranhos. Fotográficamente falando, não gosto (e não me move a inveja - nesta matéria sou perfeitamente insuspeito, pois nos últimos 10 anos trouxe a Portugal vários fotógrafos norte-americanos, para exporem, falarem em palestras e fazerem workshops - mas sim a crítica fotográfica). No que respeita ao conceito, também não entendoos objectivos: como podem as figuras retratadas
( Ronaldo, Marisa, Mourinho, etc..) por muito conhecidos que sejam no exterior, “puxar” investimentos para Portugal? Mas alguém acredita que um grupo económico vem para o nosso país só porque temos belas paisagens e algumas figuras de destaque no desporto e nas artes? Sejamos honestos. Os investimentos virão para a “west Coast” se houverem condições económicas, fiscais, sociais, laborais e políticas e, se os mesmos investidores virem uma oportunidade de negócio! Luiz Carvalho vai mais longe ao afirmar" Na verdade a campanha é de uma banalidade confrangedora e duvido muito da eficácia. Os contrastados retratos não deixam sequer adivinhar os protagonistas. Primeiro porque são uma miragem, segundo porque tirando os do costume, os outros ninguém conhece. Mas como os tempos mudam, agora o que parece ter impacto é mostrar desconhecidos...mais uma invenção dos homens do marketing e das agências de comunicação.
Se aqueles cartazes deslavados incentivam a visitar Portugal... eu prefiro a Espanha.”
Proponho desde já que os fotógrafos portuguese sigam uma ideia de um bloguista: enviar uma Carta Aberta ao ministro Pinho e ao 1º ministro, manifestando ao enorme desagrado e desapontamento por esta inicitaiva.
Os nossos impostos (que cada vez mais custam a pagar) estão a ser desbaratados assim, desta forma inacreditável (fala-se que a campanha terá custado globalmete 3 milhões de euros ).
Já agora e refiro o que o um jornalista escreveu a propósito desta campanha...que é o simples facto de o nome do fotógrafo ter mais visibilidade do que o do fotografado...
Lamento profundamente que seja este o estado das coisas. E não me admiro que alguns dos nossos melhores fotógrafos estejam a tentar outras oportunidades, “lá fora”, pois claro. Longe deste nosso nacional saloísmo.
Paulo Roberto
Fotógrafo
Talvez fosse boa ideia contratarmos um Ministro da Economia inglês.
Boa!!! Já agora poder-se-ia contratar todo o governo là fora! Porque não fazermos um elenco tipo "equipa de futebol ideal"? Talvez começarmos pelo "capitão"...
Parabens mais uma vez pelos textos de JPC sobre este tema.
Pois a unica coisinha que se safa desta campanhita he mesmo a execucao...
Mas ainda nao percebi. A campanha he para aumentar o ego dos tugas ou para promover portugal junto de pessoas de outros paises? A serio que nao sei. He que so vi a campanha no Saldanha e Marques de Pombal...
Pois, talento portugues. Meus amigos, aqui esta um blog acerca do que o talento pensa sobre o pais: http://www.mindthisgap.blogspot.com/
Como emigra, supostamente de sucesso (na acepcao bacoca do conceito), sinto-me ofendido pelo aproveitamento politico que meia duzia de ileterados (grande Alberto Joao...) estao a fazer de quem nao tem outra opcao para ter uma carreira senao fazer as malas e por-se a andar.
Os sucessivos governos nunca fizeram nada por mim - nem pela minha geracao - e os que conseguimos, bazamos. Temos educacao nas melhores universidades, MBAs nas escolas de topo, e pos-graduacoes em Harvard e na LSE. Acham mesmo que devemos alguma coisa ao governo/pais? Acham que nos sentimos "talento portugues"? Esquecam.
Enviar um comentário