Cena 1: Estou a conversar com um cliente. Perfil: cerca de 40 anos, director geral da empresa que é a terceira ou quarta que já criou e fez prosperar, sempre com base em algum tipo de inovação que vai buscar a outros mercados – o que o obriga a viajar, ir a feiras e estar muito atento. Conversa vai, às tantas vem à tona o facto de eu colaborar neste blog. Continuamos a falar mais um bocadinho, até que o meu cliente não se contém e pergunta: mas o que é mesmo isso dos blogues? Claro que ele já tinha ouvido falar; mas o facto é que nunca vira um de perto.
Cena 2: a passar uns dias na Ericeira, caminho uma noite pelo centro da vila. Há um palco montado e uma banda toca um tema qualquer. Que raio de música será esta, penso eu, que nunca a ouvi antes. Até que começo a reparar nas pessoas que, nas esplanadas em volta, acompanham o espectáculo. São famílias de classe média, jovens, velhos, crianças, o normal para um sítio de férias num sábado de calor. Estão todos a cantar com a banda. E sabem cada palavra da letra.
O meu cliente tem as antenas ligadas ao que se passa. Eu, na medida do possível, tento não ficar muito alheio aos programas que se vêem, às músicas que se cantam, ao que dá na televisão. Mas nem ele consegue, nem eu. No mundo em que vivemos, é inevitável termos às vezes esta sensação de que o que se passa ao lado nos passa realmente ao lado.
O João Pinto e Castro tem falado com frequência, inclusive neste blog, desta nova tribalização dos costumes. A grande tribo dos que vêem televisão continua maioritária, mas mesmo dentro dela, com a multiplicação dos canais pagos, as subtribos vão tendendo a tornar-se invisíveis umas para as outras. Como esta nossa tribo dos que alimentam e frequentam blogs, que já parece muito numerosa e mainstream, mas não é.
Para quem se dedica a criar campanhas de publicidade nada disso torna a vida mais fácil. Não faz muitos anos ainda era possível a um criativo olhar para os seus próprios hábitos de lazer e de consumo e extrapolar para os de "toda a gente". Um pouco mais à direita estavam os hábitos das pessoas mais velhas, mais à esquerda os das pessoas mais pobres, as da cidade e as da província, e pouco mais. Não havia muito por onde se enganar. Agora, o publicitário corre um risco muito maior de tomar por gerais os tiques e comportamentos de uma meia dúzia.Mainstream? Uma palavra tão gira, tão estrangeira. Que pena já não querer dizer nada.
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