"Os espanhóis são fantásticos, fazem tudo. Até é possível fazer promoções nos programas em directo ou animações que vão transformando os logótipos dos canais, que estão no canto superior do écrã, nos das empresas. E em França é quase tudo proibido. Chegam a apagar o nome das marcas nos placards dos jogos de futebol."
Recolhi estas declarações num artigo do suplemento de Economia do Público de 6ª feira última dedicado à directiva que a União Europeia está a preparar sobre o "product placement". Um pouco adiante, a mesma pessoa, cujo nome não quero recordar, acrescenta que "tem corrido muitos riscos" na sua actividade profissional, sempre sem saber se estaria a agir de acordo ou contra "uma regulamentação ausente".
Todo eu a tremer só de pensar nas terríveis penas a que ela se arriscou, leio ainda que foram surgindo, aqui e ali, ameaças de coimas por parte do Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade (ICAP), mas nenhuma se concretizou porque este organismo "não tem como sustentar as decisões legalmente".
Chegado aqui, iluminou-se-me finalmente o espírito. O ICAP não põe cobro aos abusos porque não há nenhuma lei que os interdite.
Interessante. Eu supunha que um organismo de auto-regulação se orientaria por um Código de Éticae Conduta, e não pela simples aplicação da lei. Se assim não é, que falta faz o ICAP, se já há a polícia e os tribunais?
O que parece é. A falta de respeito de muitos anunciantes pelos telespectadores que todos os dias constatamos é suportada pela ausência de sentido de ética que transparece das declarações citadas. "Os espanhóis são fantásticos", porque na televisão deles reina a selva. Os franceses são horrorosos, porque impõem regras estritas.
Não darei uma novidade a ninguém se afirmar que nas nossas publicações de negócios pouco espaço é reservado à defesa da ética empresarial, excepto, é claro, quando o anúncio de legislação iminente desperta nos corações sobressaltados uma súbita paixão pelas virtudes da auto-regulação.
Mais uma razão para eu felicitar a APAN e a Manuela Botelho, sua Directora Executiva, por terem trazido há dias a Lisboa John Della Costa, uma das maiores autoridades mundiais nesta matéria.
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Há 3 anos
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