Há já uns bons aninhos, tive como cliente o director de uma empresa estrangeira que operava no mercado imobiliário e que um belo dia precisou de umas bandeiras com o seu logotipo para sinalizar o lançamento do seu primeiro projecto em Portugal. Pediu a indicação de um fornecedor e recomendaram-lhe uma loja que havia na Baixa, Casa das Bandeiras ou algo assim, que na altura era a referência para esse tipo de trabalho. O meu cliente ligou-lhes e disseram que, sim senhor, faziam as bandeiras. Só que levava um mês.
Por sorte, ele tinha outra solução. Ligou a um colega que vinha de São Paulo no dia seguinte. Durante esse mesmo dia as bandeiras foram encomendadas e produzidas. Dois dias depois desembarcavam na Portela, na bagagem do tal colega brasileiro.
Imagino que hoje já não será tão moroso produzir bandeiras com logotipos em Portugal. Mas lembrei-me disso ao reparar que quase todos os dias tropeço noutros exemplos de um país em que tudo tem uma tendência a levar tempo demais. É o sujeito que desde Outubro está apalavrado para ir lá a casa consertar uns armários e que até hoje – porque o funcionário não veio, porque choveu, porque marcou uma hora e chegou três horas depois, porque se esqueceu – ainda não veio resolver o problema. É a operadora de telefones que me vendeu um serviço 3 em 1 em Novembro e que desde então mantém o meu telefone mudo e os meus telefonemas sem resposta. É o cliente que ia mandar a nota de encomenda, mas não mandou – e que por isso ia pagar, mas ainda não pagou. É o fornecedor que só entrega o trabalho à custa de ser lembrado, e cobrado, e pressionado, e ameaçado. É a reunião que era durar vinte minutos mas que, como ninguém se preparou, leva três horas e chegando ao fim nada ficou decidido. E por aí vai.
Quando vejo as desoladoras estatísticas sobre a produtividade portuguesa, e os diagnósticos de doutos economistas sobre o assunto, gostaria de acreditar que é um problema que pode ser resolvido mas a minha fé vacila. As soluções, não digo fáceis, mas possíveis de implementar, e que aliás toda a gente já sabe quais são – melhor organização, melhores processos, mais formação, mais concorrência e logo custos mais baixos, melhor justiça, etc. – até poderão funcionar, mas só até ao ponto em que encontrarem essa barreira, omnipresente e ao mesmo tempo tão fugidia, dos hábitos, da “forma de estar”, daquilo que com uma imprecisão muito conveniente também podemos chamar de “cultura”.
Barreira, aliás, nem é o termo. É mais um pó, uma espécie de areia, que grãozinho a grãozinho vai penetrando nas engrenagens do país e não o pára, mas emperra tudo.
Terá conserto?
1 comentário:
sem conserto!
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