9.2.04

As Finanças lavam mais branco

No seu livro "A Voz das Empresas", Ricardo Miranda atribui a proverbial ineficiência dos serviços públicos à falta de um espírito de concorrência como o que existe entre as marcas.

É bem provável que seja assim. E se é assim, porque não passar da simples constatação do problema à sua correcção? Marcas nos serviços públicos, já.

Por exemplo: se eu moro em Oeiras, quero passar a ter a escolha entre o Serviço de Finanças de Oeiras 1, pertencente à rede FastTaxes, e o de Oeiras 2, da cadeia ImposTotal. Seria inteiramente livre de tratar dos meus impostos onde fosse melhor atendido – ou na cadeia de que gostasse mais. A FastTaxes, por exemplo, mesmo sendo um pouquinho mais trapalhona no processamento das declarações, teria funcionários mais simpáticos e uma publicidade muito mais gira. O seu slogan, "IRS, YES, YES", seria conhecido até pelos miúdos da pré-primária. Já a ImposTotal ("Ora viva, vou pagar o meu IVA!"), apesar da imagem de sobriedade e experiência, seria vista como demasiado formal e função pública. Mas a cada um o seu gosto: em última instância, o contribuinte sempre tem razão.

Claro que o salário e prémios dos funcionários e gestores seriam indexados à maior ou menor afluência de clientes. O que não significaria aumentar a massa salarial: o que se paga aos responsáveis pela marca mais bem sucedida é o que se deixa de pagar aos concorrentes. A mesma coisa se passaria com hospitais, escolas, notários, polícia e serviços de imigração.

Assim de repente, não vejo porque não seria uma boa ideia. Ou melhor, vejo: ia levantar uma grita danada. E, tendo em conta a resistência que o Estado tem em quebrar monopólios, mesmo quando se trata de empresas teoricamente privadas como a PT, querer que ele faça isso nos seus próprios serviços… OK, foi um delírio. Podem esquecer tudo o que propus acima.

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