5.5.05

Bandeiras

Por indicação do Paulo Stenzel, fui ver em www.adlatina.com, edição de ontem, a coluna de Gabriel Dreyfus sobre a campanha da Grande Reportagem, que acaba de ganhar o Grande Prémio no FIAP (e que, aposto, ainda vai ganhar muita coisa nos festivais por aí).

O Sr. Dreyfus não gostou da campanha, acha-a muito criativa mas «hipócrita». Justifica a sua posição num longo e irado texto em que basicamente acusa as «bandeiras» de ofenderem os países do terceiro mundo, principalmente os que foram colonizados por Portugal (e aí ele inclui a China – não Macau, mas a China!).

Ou seja, na visão «latino-americana» do Sr. Dreyfus, a brilhante campanha da Grande Reportagem seria uma nova investida do colonialismo europeu contra os pobres países pobres.

O Sr. Dreyfus até pode ter razão num ou noutro ponto, se, como diz, algumas das bandeiras da campanha foram legendadas a partir de dados incorrectos. Não sei, não verifiquei. Mas, no geral, e como latino-americano que também sou, acho que a denúncia do suposto chauvinismo do artigo acaba por delatar, de forma bastante ingênua, o chauvinismo básico do autor.

O argumento mais repetido no texto é que a bandeira portuguesa é omitida. Não sei as razões que levaram a isso – mas tudo me leva a crer que simplesmente não calhou. Se o Sr Dreyfus conhecesse o gosto português pelo auto-depreciação, certamente chegaria à mesma conclusão. A ideia da campanha permite fazer bandeiras «GR» de qualquer país. Já agora, aqui fica, grátis, uma sugestão para a revista e para a FCB: por que não fazem uma espécie de concurso, aberto por exemplo a estudantes de design e publicidade, para propostas de novas bandeiras no mesmo estilo? Era interessante e aumentava ainda mais o impacto dos anúncios.

Mas o maior disparate do artigo é considerar que a denúncia das mazelas de um país é «ofensiva». Como brasileiro, não me sinto nada ofendido por um anúncio que sublinha as desigualdades do meu país – a não ser que fosse mentira. Pelo contrário: quanto mais denúncias houver, maior a pressão para que esses problemas sejam resolvidos. E isso não é ofensa, é uma ajuda.

A campanha da Grande Reportagem é brilhante. Não é filantropia: é publicidade feita para sublinhar, de forma aliás muito precisa, um posicionamento que o produto Grande Reportagem já tem. Basta dizer que, postas a circular na internet, as bandeiras começaram a causar impacto e admiração antes mesmo de serem publicadas.

Compreende-se que isso cause aqui e ali alguma dor de cotovelo.

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