14.2.07

Love brands

Era São Valentim e tinham combinado de se encontrar às nove. Mas, para variar, quando estava quase a sair do escritório alguém ligou pedindo uma coisa, depois outra, e mais outra, quando o rapaz deu por isso já eram oito e picos. E não tinha prenda para ela.

Voou para o shopping. Quando acabou de andar às voltas no parque, chegar à escada rolante e dali, pelos corredores que nunca mais acabavam, até às primeiras montras, sobravam-lhe dez minutos para encontrar alguma coisa. Mas o quê?

Já no ano passado fora igual. Um relógio? Mas ela já tinha tantos. Outra mala, nem pensar: dera-lhe uma no Natal. Calças? Sabia lá comprar calças de mulher.

O tempo a passar. As montras também, mas dentro delas nada surgia a piscar: He-le-na, He-le-na. Aquela blusa até era gira, mas não. Pouco especial. Na loja cheia de rendinhas e transparências nem parou. Fazia uns dois anos que já não estavam nessa fase.

E agora já não tinha mesmo tempo. Tinha que escolher qualquer coisa. Qualquer coisa. Um belo embrulho, um autocolante em forma de coração com qualquer coisa lá dentro. Ela ia adorar.

Entrou na loja da marca italiana que vinha tentando evitar. Tudo tão caro, mas pronto. Já não tinha tempo. Aquele blusão, por exemplo. A matar. Agarrou-o e foi para a fila do caixa.

Nove e dezoito. A mulher à sua frente devia ter vários namorados: nunca mais acabava de despejar camisas e cintos e meias para cima do balcão. Nove e vinte e sete quando chegou a sua vez.

Um belo embrulho. Um autocolante com umas fitas. Ela ia adorar.

- Não temos papel de oferta, disse a rapariga, muito objectiva, estendendo-lhe a maquininha do Multibanco.
- Como?
- Não temos mais papel de oferta.
- Mas é São Valentim!

A rapariga olhou para o lado, na direcção da gerente que fingia não ter ouvido nada. Depois, falando para dentro:
- Não é minha culpa.

Era verdade. Ela bem tinha avisado que o papel de oferta ia acabar.

Nove e trinta e cinco. Tinham combinado num restaurante em Cascais e ele ainda em Lisboa. Largou o blusão no balcão, foi a caminho do estacionamento. O telemóvel começou a vibrar e a piscar: He-le-na. O namorado carregou no vermelho.

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