14.2.07

Serviço de bordo

Escrevo este post só com a mão direita, digitando com dificuldade as letras dos dois lados do teclado. Tenho a mão esquerda ocupada há uns 15 minutos a segurar o auscultador do telefone, a fim de continuar a ouvir, pela décima terceira vez, o mesmo trecho das 4 Estações de Vivaldi. Cortesia da TAP Air Portugal.

Tudo isso porque, já lá vão dois meses, tive a incompetência de entregar as minhas bagagens para que se extraviassem, também cortesia da TAP, algures entre Lisboa e São Paulo. Como é que não fui mais precavido? Devia ter levado as malas todas para dentro da cabine.

Dois meses e dezenas de emails não respondidos depois, continuo pendurado ao “Fale Connosco” da companhia.

Enquanto ouço Vivaldi vou pensando que, quando as empresas falam em investir em comunicação, geralmente o que querem dizer é “fazer publicidade”. Ou seja, falar, em primeiro lugar, com aquelas milhares de pessoas que não estão sequer a pensar em usar os seus serviços. E que, por isso, precisamente graças à publicidade, até podem ficar com uma boa imagem da companhia. Mas não lhe vão comprar nada.

Falar, e falar com eficácia, com quem já é cliente, para uma empresa como a TAP parece ser uma preocupação muito remota.

Se calhar é por saberem que há tão pouca concorrência. Se houvesse mais opções, eu, por exemplo, nunca mais punha os pés num avião da TAP.

Mas, esperem, nem tudo está perdido: a minha chamada acaba de ser atendida! Tem que aguardar, informa-me a voz do outro lado. Neste momento estamos a tratar dos processos de Dezembro. Mas não foi isso o que me disseram há mais de um mês? Provavelmente, responde a senhora. Mas Dezembro foi um mês muito comprido. Tem que aguardar.

“Fale Connosco”, dizem eles. Esquecem-se de avisar: “Nós é que não falamos consigo”.

1 comentário:

Edie Falco disse...

A maioria dos portugueses ainda não decidiu se quer deixar de ser o país mais atrasado da Europa. Hesitam, às vezes gostam do governo reformista, às vezes não. A verdade virá ao de cima nas próximas eleições. O problema é que toda a gente espera que o governo resolva os seus problemas, esquecendo que enquanto houver a atitude "a culpa não é minha" e do "e pá, esqueci" ou "desculpe lá o atraso", Portugal vai continuar a ser a mesma choldra ingovernável de que já falava Eça ou o rei D. Carlos. Enquanto não houver a flexibilização laboral, não há hipótese. Enquanto os espanhóis não tomarem isso tudo, não há hipótese. Enquanto subsistir o Nacional-Porreirismo, não há hipótese. Enquanto as pessoas não sentirem medo de perder o emprego, o país não vai andar para a frente. Quero dizer, não no mundo dito Ocidental, não na globalização. Infelizmente, isso só vai lá com terror e medo. E à medida que se aproximam as eleições, o governo reduz o seu ímpeto reformista. vamos ter de esperar pelo início da próxima legislatura para ver alguma coisa mudar. É o império da demagogia. É o país da demagogia como forma sistemática de fazer política, e a oposição é ainda pior do que o governo. Aliás, toda essa oposição é um horror, parecem um filme de monstros. Cada um mais incompetente, cada um pior do que o outro. E ainda bem, nisso o país está com sorte. Longa vida ao Engenheiro Sócrates.