22.11.10

Momento de verdade



A microeconomia postula que a maximização do lucro é o propósito essencial de qualquer empresa. Mas o que deve um gestor fazer no dia a dia para maximizar o lucro? Espremer até à última os fornecedores? Iludir a confiança dos consumidores? Explorar tanto quanto possível os trabalhadores? Serão isso formas recomendáveis e legítimas de uma empresa prosperar?

A verdade é que nenhuma boa empresa é gerida desse modo. Na prática, esse objectivo não é sequer operacional para um empreendimento tão sui generis como a pirataria na Somália, quando para mais para actividades de grande impacto social.

Bem pelo contrário, o estudo das boas práticas de gestão (vide Built to Last e Good to Great, de Jim Collins) revela que as empresas mais rentáveis não são aquelas que mais se focalizam na rentabilidade, mas na inovação de produtos e processos, no respeito pelos consumidores, na qualificação dos colaboradores, na construção de redes de fornecedores competentes e por aí fora.

Logo, o dogma da maximização do lucro, em vez de reflectir adequadamente a realidade e de ajudar os estudantes a entenderem como funciona a economia, serve apenas para justificar comportamentos anti-sociais, tais como as decisões de fuga aos impostos que algumas grandes empresas portuguesas anunciaram nos últimos dias. Não se trata de ciência, mas de apologia.

Quem as toma consegue atrair talvez investidores à procura de rendimentos fáceis, mas não investidores estratégicos que confiam numa visão sólida e numa gestão qualificada e persistente do negócio.

PT, Portucel e Jerónimo Martins estão a dar ao país e ao mundo a mais crua e auto-destrutíva imagem de si próprias que é possível conceber-se. Chama-se a isso momento de verdade.

19.11.10

O Grivo

17.11.10

Vem aí o Upload Lisboa

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15.11.10

Reforma ou revolução

Com os orçamentos de marketing sob fogo - a expressão é hoje sinónimo de desperdício, certo? - o próximo ano promete ser negro para quem trabalha nesta área.

A minha sugestão é, por isso, que em sintonia com a exigência de austeridade dos tempos que corre, aproveitemos a ocasião  para pôr ordem na casa.

Não há abertura para novos projectos, mas talvez haja para passar em revista o que actualmente se faz: eliminar actividades que deixam de ter sentido, reformular e redesenhar outras, tirar melhor partido do que se faz, explorar sinergias entre o que já existe.

É o que actualmente sugiro aos meus clientes: auditoria profundada aos sistemas em vigor e medidas de emergência para pô-los a funcionar melhor. Quem pode discordar disso?

No tradicional conflito entre reforma ou revolução, é a primeira que de momento recolhe a preferência dos gestores. Seja.

12.11.10

Heranças

O filho de um amigo perguntou-lhe: "Pai, quando morreres posso ficar com a tua empresa?"

O negócio do meu amigo é igual ao meu: consultoria  em gestão de marketing cujo principal activo reside nas competências e na reputação do próprio. Sendo assim, que herdará ao certo o miúdo?

Só vale a pena herdar negócios que assentem na exploração de outras pessoas, eis algo que as crianças deveriam aprender de pequeninas.

10.11.10

Produtividade ou morte, venceremos

Com demasiada frequência, recebo via email confusas divagações de alguém que não se deu ao trabalho de pensar o que queria dizer antes de começar a dizê-lo.

O resultado é inevitavelmente uma selva de desabafos obscuros de inviável interpretação.

Quando uma pessoa não organiza os seus pensamentos antes de começar a escrever, isso equivale a transferir para o destinatário a incumbência de fazê-lo. E, ao menos, ele paga por isso? Provavelmente não.

Na sociedade da informação, escrita confusa entrava a eficiência, escrita clara equivale a produtividade.

Não se esqueçam disso na próxima vez que enviarem um email a alguém. E sejam intolerantes em relação aos maus hábitos de escrita técnica dos vossos colaboradores.

Perceberam o que eu quero dizer?

Estou capaz de matar alguém.

3.11.10

"Não digam à minha mãe que eu trabalho em comunicação..."

A comunicação foi indiscutivelmente uma das primeiras baixas desta peixeirada pomposamente apelidada de debate orçamental que abalou o país nas últimas semanas.

Publicidade, relações públicas, eventos, conferências ou mera consultoria, tudo foi publicamente tratado por igual como lixo imprestável, despesas sumptuárias inspiradas pelo demo, mesmo quando está em causa uma coisa tão inocentemente indispensável como a campanha de divulgação do Censo 2011.

Investir em comunicação, comprar automóveis topo de gama, contratar assessores, fugir aos impostos ou roubar os cofres do Estado são sem sombra de dúvida malfeitorias de gravidade equivalente para uma parte da opinião publicada.

E não se diga que tal opinião é restrita a políticos facciosos e jornalistas ignorantes. O assunto só é por eles agitado porque acreditam que o grande público comunga desse mesmo sentimento.
Ora isto não pode deixar de preocupar quem trabalha em alguma das múltiplas profissões relacionadas com a comunicação.

É peregrina esta ideia de que pode haver uma sociedade democrática sem comunicação ou mesmo que a comunicação prejudica a democracia. Bem pelo contrário, eu diria que a comunicação é da própria essência da democracia, logo sinto-a ameaçada se vejo a comunicação tratada como coisa perversa e indesejável.

Depois, em todos os países civilizados o Estado é hoje, através dos seus múltiplos organismos, o principal cliente das actividades de comunicação. Logo, esta caça às bruxas contra as despesas do Estado português com comunicação e matérias afins, para além de idiota, pode ser gravíssima para um sector que se encontra já em situação muito difícil.

E que tal arruinarmos definitivamente todas as nossas agências e consultoras? Poderíamos depois, mais tarde, comprar esses serviços ao estrangeiro e lamentar a fuga de gente qualificada lá para fora...