30.12.10

Estas coisas não sucedem só no estrangeiro



Serviço deficiente, clientes insatisfeitos, tratamento incompetente das reclamações, atitude sobranceira - estas coisas não surgiram agora. Julgo até que já seriam correntes na Idade da Pedra.

O que é novo é a capacidade de auto-organização de que, graças aos user-generated media, os consumidores hoje desfrutam.

Para além de todos os erros pré e pós-crise que a Ensitel cometeu e que já tantos mais competentes que eu elencaram, o sentimento de impunidade que essa e muitas outras empresas até agora acalentavam resultaria talvez da ilusão de que estas coisas só acontecem "lá fora".

Sabemos agora de ciência certa que não. É tempo de os departamentos de marketing (e, antes deles, os conselhos de administração) tirarem daqui as devidas ilações.

29.12.10

Grandes publicitários

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Teóricos do marketing

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28.12.10

Lindo serviço

22.12.10

De onde vêm as boas ideias?



Vejo algumas sérias limitações na perspectiva de Steve Johnson apresentada neste video.

A primeira é que as boas ideias só surgem se houver desafios práticos, ou seja problemas para resolver. Sociedades de gente ociosa não inventam muita coisa relevante.

A segunda é que temos hoje uma certa tendência para valorizar as ideias independentemente da capacidade de pô-las em prática. O que, por sua vez, nos leva a duas questões complementares: a) pode considerar-se boa uma ideia que ninguém consegue pôr em prática?; c) pode ter boas ideias alguém que não domina as condições e as ferramentas que permitem a sua concretização?

Eu tenderia a afirmar que o preconceito hoje dominante vê as ideias como um processo puramente mental (seja individual seja colectivo), quando a verdade é que elas só ocorrem e fazem sentido no contexto de formas de vida, de trabalho e de lazer bem determinados.

PS: Quem já viu o filme Redes Sociais (história ficcionada do Facebook) não pode deixar de questionar-se quem teve afinal a ideia: os manos Winklevoss ou Mark Zuckerberg? E tu, o que é que achas?

9.12.10

Fernicoques

Faz-me fernicoques esta coisa de se chamar Marketing Interno a toda e qualquer acção de comunicação dirigida aos colaboradores no contexto da gestão dos Recursos Humanos.

Parece-me absurdo dizer-se que os colaboradores são clientes internos da Direcção de Recursos Humanos e que essas práticas se enquadram numa política de relacionamento com esse mercado endógeno.

Conceptualmente, lamento dizer que nada disto faz sentido. Para começar, há aqui uma óbvia confusão entre marketing e comunicação: nem o marketing se reduz à comunicação, nem a comunicação empresarial se resume àquela que é dirigida aos clientes.

Depois, dentro das empresas não há mercados, há redes e hierarquias, duas formas de organização económica tão ou mais respeitáveis que os mercados. Logo, não pode também haver clientes.

Não considero sequer que saia favorecida a dignidade de quem trabalha numa empresa por lhe chamarmos cliente em vez de colaborador.

Há só uma circunstância em que faz sentido falar-se de Marketing Interno, e é aquela em que os colaboradores são informados, treinados e motivados tendo em vista a sua participação em acções directamente orientadas para a venda ou o serviço ao cliente.

Não ganhamos nada em alimentar jogos de palavra e perdemos decerto muito em clareza de propósitos e focalização no que de facto interessa fazer.

5.12.10

Lição de marketing Made in China

Quando compro computadores, telemóveis, máquinas fotográficas ou leitores de DVDs de origem americana ou japonesa já sei que o melhor é consultar imediatamente as instruções em inglês, tão incompreensíveis se revelam as que trazem numa língua a que pomposamente chamam "português".

Há dias necessitei de comprar um carregador para o meu portátil, tendo a escolha recaído sobre uma marca chinesa desconhecida cujo preço era metade do concorrente mais próximo.

Como seria de esperar, o dispositivo funciona (até agora) a contento. Nenhum sobressalto, pois, desse lado. Surpreendente mesmo é o facto de as instruções estarem redigidas num português fluente e claro.

Qualidade adequada, preço imbatível, respeito pelo utilizador - cada vez há menos justificação para a tradicional desconfiança em relação aos produtos chineses.

(Sabiam que há universidades chinesas onde o português é a língua estrangeira oficial?)

22.11.10

Momento de verdade



A microeconomia postula que a maximização do lucro é o propósito essencial de qualquer empresa. Mas o que deve um gestor fazer no dia a dia para maximizar o lucro? Espremer até à última os fornecedores? Iludir a confiança dos consumidores? Explorar tanto quanto possível os trabalhadores? Serão isso formas recomendáveis e legítimas de uma empresa prosperar?

A verdade é que nenhuma boa empresa é gerida desse modo. Na prática, esse objectivo não é sequer operacional para um empreendimento tão sui generis como a pirataria na Somália, quando para mais para actividades de grande impacto social.

Bem pelo contrário, o estudo das boas práticas de gestão (vide Built to Last e Good to Great, de Jim Collins) revela que as empresas mais rentáveis não são aquelas que mais se focalizam na rentabilidade, mas na inovação de produtos e processos, no respeito pelos consumidores, na qualificação dos colaboradores, na construção de redes de fornecedores competentes e por aí fora.

Logo, o dogma da maximização do lucro, em vez de reflectir adequadamente a realidade e de ajudar os estudantes a entenderem como funciona a economia, serve apenas para justificar comportamentos anti-sociais, tais como as decisões de fuga aos impostos que algumas grandes empresas portuguesas anunciaram nos últimos dias. Não se trata de ciência, mas de apologia.

Quem as toma consegue atrair talvez investidores à procura de rendimentos fáceis, mas não investidores estratégicos que confiam numa visão sólida e numa gestão qualificada e persistente do negócio.

PT, Portucel e Jerónimo Martins estão a dar ao país e ao mundo a mais crua e auto-destrutíva imagem de si próprias que é possível conceber-se. Chama-se a isso momento de verdade.

19.11.10

O Grivo

17.11.10

Vem aí o Upload Lisboa

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15.11.10

Reforma ou revolução

Com os orçamentos de marketing sob fogo - a expressão é hoje sinónimo de desperdício, certo? - o próximo ano promete ser negro para quem trabalha nesta área.

A minha sugestão é, por isso, que em sintonia com a exigência de austeridade dos tempos que corre, aproveitemos a ocasião  para pôr ordem na casa.

Não há abertura para novos projectos, mas talvez haja para passar em revista o que actualmente se faz: eliminar actividades que deixam de ter sentido, reformular e redesenhar outras, tirar melhor partido do que se faz, explorar sinergias entre o que já existe.

É o que actualmente sugiro aos meus clientes: auditoria profundada aos sistemas em vigor e medidas de emergência para pô-los a funcionar melhor. Quem pode discordar disso?

No tradicional conflito entre reforma ou revolução, é a primeira que de momento recolhe a preferência dos gestores. Seja.

12.11.10

Heranças

O filho de um amigo perguntou-lhe: "Pai, quando morreres posso ficar com a tua empresa?"

O negócio do meu amigo é igual ao meu: consultoria  em gestão de marketing cujo principal activo reside nas competências e na reputação do próprio. Sendo assim, que herdará ao certo o miúdo?

Só vale a pena herdar negócios que assentem na exploração de outras pessoas, eis algo que as crianças deveriam aprender de pequeninas.

10.11.10

Produtividade ou morte, venceremos

Com demasiada frequência, recebo via email confusas divagações de alguém que não se deu ao trabalho de pensar o que queria dizer antes de começar a dizê-lo.

O resultado é inevitavelmente uma selva de desabafos obscuros de inviável interpretação.

Quando uma pessoa não organiza os seus pensamentos antes de começar a escrever, isso equivale a transferir para o destinatário a incumbência de fazê-lo. E, ao menos, ele paga por isso? Provavelmente não.

Na sociedade da informação, escrita confusa entrava a eficiência, escrita clara equivale a produtividade.

Não se esqueçam disso na próxima vez que enviarem um email a alguém. E sejam intolerantes em relação aos maus hábitos de escrita técnica dos vossos colaboradores.

Perceberam o que eu quero dizer?

Estou capaz de matar alguém.

3.11.10

"Não digam à minha mãe que eu trabalho em comunicação..."

A comunicação foi indiscutivelmente uma das primeiras baixas desta peixeirada pomposamente apelidada de debate orçamental que abalou o país nas últimas semanas.

Publicidade, relações públicas, eventos, conferências ou mera consultoria, tudo foi publicamente tratado por igual como lixo imprestável, despesas sumptuárias inspiradas pelo demo, mesmo quando está em causa uma coisa tão inocentemente indispensável como a campanha de divulgação do Censo 2011.

Investir em comunicação, comprar automóveis topo de gama, contratar assessores, fugir aos impostos ou roubar os cofres do Estado são sem sombra de dúvida malfeitorias de gravidade equivalente para uma parte da opinião publicada.

E não se diga que tal opinião é restrita a políticos facciosos e jornalistas ignorantes. O assunto só é por eles agitado porque acreditam que o grande público comunga desse mesmo sentimento.
Ora isto não pode deixar de preocupar quem trabalha em alguma das múltiplas profissões relacionadas com a comunicação.

É peregrina esta ideia de que pode haver uma sociedade democrática sem comunicação ou mesmo que a comunicação prejudica a democracia. Bem pelo contrário, eu diria que a comunicação é da própria essência da democracia, logo sinto-a ameaçada se vejo a comunicação tratada como coisa perversa e indesejável.

Depois, em todos os países civilizados o Estado é hoje, através dos seus múltiplos organismos, o principal cliente das actividades de comunicação. Logo, esta caça às bruxas contra as despesas do Estado português com comunicação e matérias afins, para além de idiota, pode ser gravíssima para um sector que se encontra já em situação muito difícil.

E que tal arruinarmos definitivamente todas as nossas agências e consultoras? Poderíamos depois, mais tarde, comprar esses serviços ao estrangeiro e lamentar a fuga de gente qualificada lá para fora...



28.10.10

Facebook aeroportuário



Segundo o Facebakers de 18/10, é o seguinte o ranking mundial das páginas de aeroportos no Facebook classificadas por número de fãs:

1. Cleveland Hopkins: 31.108

2. Akron-Canton: 16.248

3. Changi: 15.948

4. Oakland: 4.563

5. Hartsfield-Jackson Atlanta

6. Boston Logan Airport

7. Suvarnabhumi: 2.989

8. Budapeste: 2.845

9. LAX: 2.464

10. Aeroporto do Porto: 2.307

Algumas breves observações:

1. É ainda incipiente a utilização desta ferramenta de comunicação em todo o mundo. Os maiores aeroportos movimentam dezenas de milhões de passageiros por ano, logo alguns milhares de frequentadores de uma página no Facebook tem que ser considerado insignificante.

2. Apenas um grande aeroporto (o de Changi, em Singapura) está nos dez primeiros. Fora dos EUA e da Ásia, só Budapeste e Porto investem qualquer coisa no meio.

3. O Porto entrou para o Top Ten em menos de 6 meses. (A contagem de hoje indica já 2.437 fãs registados) Isto há-de querer dizer alguma coisa.

4. A utilização do Facebook está na sua infância. Eis uma grande oportunidade para se fazer algo marcante e inovador.

A disciplina do teste publicitário agora ao alcance do povo



John Caples escreveu há mais de três quartos de século Tested Advertising Methods, a obra definitiva sobre testes de eficácia publicitária.

Não me refiro a pré-testes, mas a testes reais de anúncios de resposta directa, um tema de renovada importância nesta época de comunicação digital em que a interactividade se tornou trivial.

Caples conta que certa vez conseguiu multiplicar 11,5 vezes a eficácia de um anúncio alterando-lhe o headline, para assim demonstrar que a diferença entre boa e publicidade pode ser abissal. Só se acredita num efeito dessa dimensão porque o autor da afirmação foi uma pessoa de imaculada probidade.

Agora, porém, com o Google AdWords, todos podemos confirmar por nós mesmos a importância do posicionamento certo (palavras-chave seleccionadas) e da promessa certa (texto do anúncio seleccionado).

Estou neste momento a testar alternativas para atrair visitantes ao novo site da Ology, e já consegui multiplicar por três a percentagem de cliques no breve espaço de duas semanas. Espero vir a melhorar muito mais este registo nos próximos tempos - como, aliás, já fiz no passado.

O tema do posicionamento é especialmente delicado. Certas palavras-chave têm muitas visualizações, mas o espaço está pejado de concorrentes; outras palavras-chave são pouco concorridas, mas em contrapartida geram poucas visualizações. Não é fácil encontrar o ponto de equilíbrio.

Não conheço melhor escola para entender a importância do conceito de posicionamento e aprender a aplicá-lo.

4.10.10

Os oito tipos de gestores

"The 8 Types of Managers" | Tom Fishburne

16.9.10

Todas as cores são iguais, mas algumas são mais iguais do que outras



Repararam? Social networking é mais azul, mass media é mais vermelho. Ou será impressão minha?

6.9.10

Bienvenue, au revoir by voyages-SNCF

26.8.10

Apresentação da temporada da Filarmónica de Berlim no YouTube

24.8.10

Quem sou eu para opinar sobre isto?



Fez-me muita confusão descobrir que toda a gente ansiava por possuir um telemóvel. Só nos últimos anos me habituei a enviar mensagens por SMS. Por mim, ainda hoje tiraria fotos analógicas. Os LPs eram fantásticos, os CDs excelentes, não senti nenhuma urgência de aderir ao iPod.

Logo, quem sou eu para avaliar que espécie de malucos poderiam ver algum tipo de utilidade neste Rolly, lançado pela Sony em 2007? Mas confesso que o facto de o produto ter sido um fracasso me deixa mais confiante nas minhas capacidades de discernimento.

O video de demonstração é divertido, mas o gozo que proporciona decerto não justifica as fortunas dispendidas no desenvolvimento do dispositivo. Digo eu.

23.8.10

Garantem-me que este spot da Honda não teve pós-produção



Será mesmo verdade que este spot não teve pós-produção? E, se não teve, isso faz alguma diferença para quem vê, partindo do princípio de que quem vê não faz a mínima ideia de que isto não é uma montagem feita em computador?

Com tanto efeito especial, já ninguém presume que está a ver a realidade, muito menos que isso tenha relevância. É só publicidade, certo?

Nessas circunstâncias, entre a realidade e a ficção seria preferível escolher a ficção. Sempre sai mais barato.

Por que sai mais barato? Porque, segundo a lenda, foram precisos mais de 600 takes para filmar este spot. O primeiro demorou 90 minutos.

Acho que não vou dormir hoje.

20.8.10

Cadbury does it again

19.8.10

Willem Gillette Tell

33 + 10 minutos não é muito tempo para ficar a perceber qualquer coisa de redes sociais



Em vez de assistirem ao telejornal e lerem o diário, recomendo antes que invistam hoje o vosso tempo neste video.

7.8.10

Microeconomia para o mundo real



A microeconomia postula que as decisões dos consumidores são racionais, egoístas e independentes. Toda a gente que trabalha em marketing e comunicação sabe de ciência certa que não é assim, de modo que é inútil perderem tempo com o tema.

Nas últimas décadas, gente como Kahnemann e Tversky, com formação de base em psicologia, dedicou-se a estudar seriamente o que motiva os consumidores, dando origem ao ramo da economia comportamental (behavioral economics para os amigos). Kahneman ganhou em 2002 o Nobel da Economia (Tversky morrera entretanto, pelo que não partilhou o galardão).

Todos aqueles cuja profissão implica o entendimento do comportamento dos consumidores ganharão em familiarizar-se com a economia comportamental. Mesmo que não descubram factos que anteriormente ignoravam, ficarão a entender melhor a razão de fenómenos familiares e os fundamentos psicológicos de atitudes e comportamentos aparentemente (sublinho: aparentemente) irracionais.

A mais conhecida introdução ao tema é "Predictably Irrational", de Dan Ariely, mas eu estou a ler antes o "Basic Instincts" de Pete Lunn e recomendo.

29.7.10

O que procuram os clientes?



Alguém vai à Brasileira, à Bénard ou à Versailles por causa da bica, dos croquetes ou dos duchesses?

Poucos, claro está. O atractivo de locais como esses está no ambiente ele próprio.

Faria pois sentido que os respectivos proprietários se dedicassem mais a cuidar dele. Poderiam tomar como exemplo a Portugália, uma cadeia que, com um produto diferente e outra clientela, soube entender o que nos encanta nas suas cervejarias.

Percebe-se muito mal o grau de desleixo e a falta de critério na selecção dos menús que qualquer desses três estabelecimentos exibe. (Parênteses para distinguir a qualidade do serviço humano na Versailles.)

Tudo aquilo precisava de uma revisão de alto a baixo, a começar pela louça e a a acabar pelo serviço de balcão. Mas o que mais falta ali faz é uma noção clara do posicionamento indicado para casas como aquelas.

Evidentemente, parte crucial desse necessário reposicionamento seria a subida dos preços praticados, visto que, sem isso, a prazo a sua sobrevivência será impossível.

Enfim, é mais ou menos destas coisas que falamos quando falamos de marketing de experiências.

28.7.10

O eterno retorno

Portugal nas redes sociais

26.7.10

A comunicação já não é o que era



Cada vez mais me convenço que a utilidade do Twitter para as marcas reside acima de tudo nas oportunidades de escuta dos clientes que proporciona. Trata-se,sem dúvida, de uma excelente ferramenta para estimular o desenvolvimento na empresa de uma orientação para o serviço.

19.7.10

Privacidade

Perguntei aos meus alunos que inconvenientes vêem na aplicação dos conceitos do CRM às relações entre o Estado e os cidadãos.

Apenas menos que 20% mencionaram de alguma forma o tema da ameaça à privacidade dos indivíduos.

Sim, eu sei que isto não é uma sondagem fiável. Mesmo assim, não posso deixar de me sentir algo inquieto com o resultado obtido.

16.7.10

15.7.10

Vendo bem, é muito fácil construir uma marca

14.7.10

Sapatos Made in Finland



Marketing One-to-One da Finlândia para o mundo.

13.7.10

A mãe de todas as tretas

A única coisa surprendente, é que 47% não se considerem consumidores mais exigentes do que no passado; 43% não acreditem mais na opinião de outros consumidores do que na dos experts; 46% não se sintam mais ansiosos com o futuro do que anteriormente; 42% duvidem de que a sociedade está a caminhar na direcção errada; 41% não se preocupem por estarmos cada vez mais distantes da natureza; e só 20% não sintam ser importante comer ao menos uma vez por dia com a família.

Muita gente estúpida, não é verdade?

Desculpa lá, Sérgio, mas essa sondagem que citas parece-me uma grandessíssima treta - na verdade, parece-me a mãe de todas as tretas.

Estado de calamidade gramatical

Escreve um sujeito cuja identidade não vem aqui ao caso: "Este mercado reflecte o negócio de correio urgente e de logística integrada."

O que pensará este sujeito que significa o verbo "reflectir"? Não seria grave se se tratasse de um caso isolado, mas a gente abre o jornal e constata que, para os próprios escrevinhadores profissionais, palavras tais como "confessar", "analisar" ou "considerar" têm significados misteriosos e, em última análise, rigorosamente intermutáveis.

Houve um tempo em que nos anúncios, ao menos, estas calamidades não sucediam.

Sentido crítico, precisa-se

Preocupa-me a credulidade com que os estudantes de marketing aceitam tudo o que vêem ou ouvem na televisão, nas revistas ou na internet, algo tanto mais preocupante quanto é escasso o rigor com que aí os assuntos são abordados.

O resultado é uma lamentável falta de sentido crítico, mais grave, quer-me parecer, do que noutros cursos e noutras profissões.

Gestão da carteira de clientes

Don Peppers acha que a gestão da carteira de clientes é uma coisa nova.

Mas eu posso garantir que foi inventada pela Ogilvy Direct (hoje OgilvyOne) há uns bons vinte anos. O modelo utilizado chamava-se Value Spectrum, e eu ensino-o desde então aos meus alunos.

Naco de sabedoria trivial

Gestores de marketing blasés desdenham conduzir uma análise SWOT das suas marcas. A desculpa: é talvez uma ferramenta trivial, algo fora de moda, demasiado simples para uma época de consumidores ariscos e redes sociais.

Mas eu pergunto: se a análise SWOT é tão básica, por que haverá tão pouca gente capaz de fazê-la em condições? Ora, porque é um teste muito exigente à capacidade de raciocínio rigoroso de cada um.

Por hoje, volto só a insistir nisto: uma estratégia ou uma possível iniciativa de marketing (quer se trate de rebranding, entrada nos mercados externos ou lançamento de um novo produto) não é uma oportunidade.

Uma oportunidade é, apenas e só, alguma circunstância externa actual ou previsível favorável cuja ocorrência não depende da vontade dos gestores da empresa ou da marca. Pensem nisso.

Num dos seus poemas, Maquiavel põe na boca da Oportunidade estas palavras:
"E tu, mentre parlando il tempo spendi,
Occupato da molti pensier vani,
già non t' avvedi, lasso! e non comprendi
com' io ti son fuggita tra le mani!"

7.7.10

Good old days

1.7.10

Washington Olivetto, sobre a sua "nova" agência

"Puta" idéia
 
Washington Olivetto - chairman da WMcCann

"Neste mundo globalizado e digitalizado, para uma agência de publicidade ser realmente fora de série, ela precisa ser uma espécie de Maria Sharapova das agências: grande e sexy.

Presente na maioria dos países, associada a uma das maiores redes, forte na América Latina, (no Brasil, principalmente) confiável para gerir contas locais, regionais e globais, com capacidade de monitorar as áreas de interesse dos clientes e descobrir o que pode trazer verdadeiras vantagens competitivas. 

Mais do que isso, tem que saber detectar, testar e entender novas soluções e serviços, ter capacidade de criar encontros personalizados, trazendo os seus mais brilhantes talentos mundiais para junto dos clientes locais e buscar soluções inovadoras. 

Deve também ser capaz de contar com uma plataforma que acione digitalmente os seus melhores cérebros, para gerar respostas rápidas a desafios que necessitem de uma solução imediata. A Maria Sharapova das agências tem ainda que ter especialistas em construção de marcas, planejamento de mídia, soluções digitais, ativação, eventos, pontos de venda e relações públicas. 

Tem que ter uma ferramenta própria de ROI (Retorno sobre Investimento), que simule milhares de variáveis e saiba responder qual ponto de contato traz mais resultados entre todas as alternativas existentes e qual combinação de pontos de contato garante maior retorno. 
Tem também que saber detectar os hábitos e valores dos públicos-chave, saber como se comportam os construtores de identidades (adolescentes), os construtores de carreira (jovens adultos), os construtores de família (jovens casais) e os construtores de uma nova vida (pessoas na maturidade). Saber as escolhas e preferências do consumidor de alta renda, descobrir para onde vai à classe C e antecipar quais são as novas tendências que estão prestes a virar comportamento de massa. Esses são, basicamente, alguns dos ingredientes para uma agência ser fora de série, mas só eles somados ainda não são suficientes. 

Sem grandes criadores, capazes de gerar idéias surpreendentes, nenhuma agência chega a ser uma Maria Sharapova, mesmo contando com grande aparato intelectual e tecnológico. Chega no máximo, a ser uma Maria Vai com as Outras, particularmente aquelas outras que também são grandes, mas não são sexy. A verdade é que, apesar de todas as mudanças que aconteceram no quadro social e no universo da comunicação, uma coisa continua absolutamente igual. Só a grande idéia continua tendo o poder de seduzir, porque só a grande idéia é sexy. 

Só a grande idéia é capaz de produzir "excelence in advertising". A grande idéia ("puta idéia", para os íntimos) é a origem e a razão dessa profissão. Foi assim na idade do "lay" lascado, é assim nestes tempos de iPads ambicionados e será assim no futuro, que a nós pertence." 

Artigo publicado em 06/06/2010 no jornal Folha de S. Paulo.

28.6.10

Serviço personalizado

24.6.10

Serviço ou talvez não

Em qualquer sistema de self-service, incluindo os super ou hipermercados, o cliente faz uma parte do serviço outrora a cargo de empregados. Noutros tempos, ele dirigia-se a um balcão, pedia o que desejava e recebia as suas compras já embaladas e prontas a transportar. A retirada do balcão permitiu ou obrigou o cliente a ir directamente buscar o que pretende.

Nas estações de serviço não havia sequer balcão, de modo que parece hoje absolutamente natural que cada qual trate de encher o depósito, verificar a pressão dos pneus e limpar os vidros.

Muitos estabelecimentos de fast-food conseguem também economias significativas de mão-de-obra à nossa custa. Quando optamos pelo take away, ajudamos a empresa a poupar no espaço do estabelecimento. Pessoas usualmente exigentes aceitam inclusive levantar a mesa no McDonald's sem qualquer contrapartida óbvia.

Quando as empresas compreenderam que os consumidores aceitam de bom grado desempenhar certos trabalhos a troco de conveniência, rapidez e economia, o sistema self-service generalizou-se progressivamente no sector dos serviços.

Ao levantarmos dinheiro ou fazermos pagamentos no ATM, contribuímos graciosamente para a maior eficiência dos bancos. O mesmo se passa quando aderimos ao home banking. Se trocarmos os extractos em papel pelos extractos digitais, o banco deixa de ter que imprimi-los e enviá-los pelo correio, ficando a nosso cargo procurar a informação no respectivo site num computador e com recurso a telecomunicações que nós pagamos.

A IKEA vende mobiliário mais barato porque a montagem final corre por nossa conta. A economia conseguida corresponde euro por euro às horas de trabalho não contabilizadas que dispendemos no processo. Parte da fábrica foi transferida para nossa casa sem que disso nos dessemos conta.

Tornámo-nos funcionários subservientes das empresas que nos vendem produtos e serviços. Trabalhamos para elas sem horários, nem salários, nem direitos laborais. Mais: se o serviço funcionar mal, muito provavelmente a culpa será nossa.

É evidente o padrão que se criou. O aumento de produtividade do sector dos serviços consiste em grande medida em persuadir-nos a suportarmos uma carga de trabalho cada vez maior, trabalho esse que, deixando de ser feito pelos empregados do fornecedor, lhe assegura poupanças muito significativas.

Inevitavelmente, porém, cada vez dispomos menos de genuíno tempo livre. Toda a gente se queixa de que esteve muito ocupada no fim de semana. A fazer o quê? Ora, a fazer compras no supermercado, a lavar o carro, a meter gasolina, a consultar os movimentos bancários, a esperar na bicha do fast food ou a montar móveis. Tanta modernidade deixa-nos esgotados.

22.6.10

É preciso ter objectivos claros nas redes sociais



Interessante entrevista de Diego Oliva, Director Comercial do Facebook para o Sul da Europa, no Meios & Publicidade. Eis alguns extractos:

"As melhores acções ou aquelas que têm melhores resultados são aquelas em que há uma conjugação de vários factores. Em primeiro lugar, as marcas usam o Facebook não isoladamente mas como parte da estratégia global, está integrado na sua comunicação e representa e reflecte o que é a marca. Depois, há transparência e diálogo com os utilizadores. Há disponibilidade para ouvi-los e dirigir-lhes mensagens de uma forma directa e onde se acrescenta valor à experiência. Dá-se sentido de comunidade à marca e oferecem-se conteúdos especiais em termos de entretenimento ou de coisas úteis que melhoram a experiência com o utilizador. Se se combinam estes factores com a honestidade as campanhas correm bem."

"É preciso ser muito fiel ao ADN da marca. As pessoas ligam-se ao que conhecem e querem ter uma relação honesta com alguém que as escute. Para fazer parte do social graph [expressão usada pelo Facebook para definir o mapeamento das pessoas e com quem elas se relacionam] tem de existir o compromisso de clareza e de transparência para que as pessoas estejam dispostas a permitir que as marcas entrem nas suas vidas."

"Como havia a tradição de fazer publicidade de uma forma unidireccional, apesar de se saber que o Facebook é um meio diferente, usa-se uma abordagem e um enfoque semelhante ao da publicidade tradicional. É preciso modelar a comunicação e a mensagem, aceitando o facto de que se vai ter uma resposta e que é preciso estar preparado para o diálogo. Outro ponto importante é que as marcas quando começam a fazer algo, não podem estar à espera da perfeição logo na sua estreia no Facebook. Isso não vai acontecer. Esta é uma nova forma de comunicar. As marcas devem começar a fazer alguma coisa, para aprender, escutar e melhorar passo-a-passo."

"Um dos erros que se comete quando se quer entrar no Facebook é não ter os objectivos claros e se tenta estar no Facebook a qualquer preço. No Facebook pode-se fazer quase tudo, de acordo com os objectivos da marca. Podemos trabalhar notoriedade como em qualquer outro portal, mas também podemos capitalizar essa notoriedade para a compra. Podemos também gerar fidelidade, que é uma coisa que é difícil nos dias de hoje na internet."

21.6.10

Uma aulinha prática sobre e-mail marketing

Chegou-me às mãos, num email promocional, um relatório interessante sobre o estado do email marketing em Portugal. Interessante de duas maneiras. Primeiro, pelo conteúdo em si: embora bastante sumária, como é adequado a um tipo de informação que pretende principalmente abrir o apetite do leitor para saber mais, indo ao site ou inscrevendo-se no seminário que está a ser promovido, a informação que lá está é rigorosa, está bem apresentada, é interessante e, principalmente, é relevante. Depois, porque ilustra como o e-mail marketing funciona. Justamente por ser tudo isso – informativo, interessante e relevante – a informação enviada no e-mail conseguiu que pelo menos um destinatário do e-mail (eu próprio) saísse da sua comodidade e agisse. Vejam só tudo o que conseguiram que eu fizesse:

1. Preenchi a “squeeze page” para descarregar o relatório
2. Li o relatório até ao fim, ficando com uma boa imagem da credibilidade de quem o enviou
3. Estou a divulgá-lo, através deste post
4. E ainda com comentários que recomendam a leitura.

Claro que não me mexi tanto para fazer um favor a ninguém. Apenas agi no meu próprio interesse, aproveitando a oferta de informação útil para mim próprio e para os eventuais visitantes deste blog. Essa oferta de informação útil é o que caracteriza o bom e-mail marketing. Significa que estes senhores da markedu.com até praticam o que pregam.

O que não quer dizer que eu tenha feito tudo o que eles gostariam que fizesse. Não fui ao site e não me inscrevi para o seminário que promovem. Mas como me causaram uma boa primeira impressão, da próxima vez que me contactarem, com mais informação útil, já estarei mais predisposto a fazê-lo. Porque o tal e-mail marketing, como diz o próprio relatório, é uma ferramenta relacional. Requer frequência de contacto, relevância constante, persistência e paciência.

Jayme Kopke

15.6.10

As coisas que se podem fazer com o twitter

Uma maneira diferente de ver o Mundial. Conheça o World Cup 2010 Twitter Replay.

14.6.10

And the loser is...


Embora há anos se fale no disparate que é o método corrente de selecção das agências de publicidade em Portugal, cada novo concurso para uma conta de alguma dimensão nunca deixa de acrescentar novos exemplos para a antologia do absurdo.
Desta vez é o Turismo dos Açores. Segundo o Meios & Publicidade, das 11 agências em concurso, 11 foram excluídas, por apresentarem alguma inconformidade com o Caderno de Encargos. Como parecem ser todas agências altamente profissionais, com larga experiência nestas disputas, digam lá se não é uma grande coincidência todas terem lido mal ou tratado com descaso os detalhes do dito caderno de encargos. Imagino mesmo que, com o mercado como está, todas terão investido uma extravagância de tempo e recursos para tentar abocanhar os 200 mil euros da criatividade e, quem sabe, algum naquinho dos 800 mil de produção e dos 29 milhões de media.
E todo este esforço, multiplicado por 11, para quê? Para o júri placidamente deitar tudo no lixo e ponderar, como solução, “a adjudicação directa do investimento de 30 milhões de euros na produção turística dos Açores”.
 Um desfecho tão incompreensível poderia pelo menos ter uma utilidade. No próximo concurso do género – com tantos participantes que o resultado é uma lotaria, sem fees de rejeição e com cadernos de encargos armadilhados – poderiam recordar mais esta inglória experiência e não se prestar ao papel habitual. Mas, cheira-me, é precisamente o contrário que vai voltar a acontecer.

6.6.10

Uau. E eu que nem gosto de futebol II.

28.5.10

Simples e bem feito



O sucesso de um manual escolar depende em grande medida - se não fundamentalmente - da avaliação que dele façam os professores que irão utilizá-lo para ensinar.

Vai daí, as editoras habituaram-se a escutar atentamente a priori as opiniões dos professores e a incorporar as suas sugestões nos materiais educativos que lançam no mercado.

Ora, a Web 2.0 veio pôr à disposição de todos os interessados ferramentas que permitem fazer essa auscultação melhor, mais depressa e mais barato. Compreendendo isso, o departamento de Marketing Escolar da Leya lançou em Setembro de 2009 uma plataforma do tipo wiki dedicada ao diálogo com os educadores.

Segundo leio nos jornais, é visitada semanalmente por 2 mil professores que, seja no site, seja nas páginas entretanto abertas no Facebook e o Twitter, se envolvem na discussão das melhorias a introduzir no ensino da Matemática, das Ciências da Natureza e de Geografia/ História no 5º ano, e de Português no 5º.

Pode não ser uma ideia surpreendentemente original, mas é, sem dúvida, um trabalho inteligente e bem feito - o que, acreditem-me, continua a ser raro.

Ando louco para encontrar bons exemplos de marketing português nas redes sociais para incluir no meu novo livro que estou a finalizar, intitulado "Marketing Ombro a Ombro: O marketing na era do consumidor activo, conectado e poderoso". Isso parece-me especialmente importante para demonstrar que estas ideias - de eficácia comprovada nos EUA - são também perfeitamente actuais no nosso país.

Alguém quer sugerir-me outros casos de sucesso que eu porventura não conheça?

24.5.10

Uau. E eu que nem gosto de futebol.

18.5.10

21.4.10

Engraçadinho. Mas serve mesmo para quê?

Um gimmick muito giro criado pela Proximity de Nova Iorque para a Fedex. Só não consegui é percber muito bem para que serve (ok, para enviar anexos - mas isso o email já faz). A sério, alguma coisa me escapou. Alguém me explica?

13.4.10

Quer mesmo saber o que é "disruption"?

É isto:



Ao contrário do que pensa muito boa gente, especialmente entre os anunciantes, não é de todo indispensável que a comunicação de marketing seja "positiva" ou "agradável". Às vezes é precisamente o contrário que  funciona melhor. Veja o vídeo e depois falamos.

8.4.10

As celebridades e o círculo da incompetência



O recurso a celebridades na comunicação é muitas vezes o preço que se paga para compensar a ausência de ideias.

Se ninguém cuidou de diferenciar a oferta, se o mercado alvo está por identificar, se o posicionamento não é aliciante, se não se trabalhou o argumento de venda, se não se sabe bem para que se quer fazer publicidade, se não se quer pagar trabalho criativo decente - então, não sobra dúvida de que uma celebridade talvez empreste algum interesse a algo que, muito provavelmente, não terá nenhum.

Se, porém, para agravar o caso, não houver muito dinheiro para gastar com celebridades, faz-se de conta que se contrata uma, e estará fechado o círculo da incompetência.

6.4.10

A despedida



Bob Garfield anunciou ontem o termo de AdReview, a coluna de crítica de campanhas publicitárias que mantinha há 25 anos na Advertising Age.

O artigo de despedida faz um balanço da experiência e explica a decisão. O mundo está a ficar velho.

Quem é o Sá Pessoa?



Apesar das muitas e variadas dúvidas expressas sobre a eficácia da utilização das celebridades na publicidade, ela tem progredido continuamente ao longo das últimas décadas.

Seja qual for a nossa posição nesse debate, numa coisa até agora estavamos todos de acordo: uma celebridade é uma celebridade.

Mas eu pergunto à minha volta quem é o Sá Pessoa e ainda não encontrei quem saiba.

Ou por outra: não sabiam, mas agora já sabem: é um tótó com bons amigos na Knorr portuguesa.

1.4.10

Publicidade política no seu melhor

25.3.10

The Last Advertising Agency on Earth - será?

23.3.10

Gosto do novo modelo da ADMAP

21.3.10

Ainda sobre aprender e ensinar

Ocorreu-me agora: este post que escrevi há tempos é um útil complemento do anterior.

18.3.10

Aprender e ensinar

Pedro Bidarra ("Cursos inferiores", i de 16.3.10) mistura duas questões diferentes:

1. Se deve haver cursos superiores de Marketing e Publicidade.

2. Se é possível ensinar-se Marketing e Publicidade.

Não quero tratar agora da primeira, embora possa adiantar que a minha opinião coincide em parte com a dele.

Começarei por fazer notar que mesmo quem duvida que se possa ensinar essas matérias tende a crerque elas possam ser aprendidas. Se fossemos franceses, talvez o debate terminasse aqui, porque, na língua deles, a palavra "apprendre" significa tanto aprender como ensinar.

Aparentemente, o Pedro acredita que a experiência de vida é a melhor maneira de aprender. Esta tese não é nova. O Dr. Antunes Guimarães, Ministro da Educação de um governo de Salazar, por exemplo, opinava que saber ler e escrever não seria assim tão importante, visto que, apesar de analfabeto, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia.

Mas é claro que o Pedro Bidarra não partilha essa opinião algo extrema. Ele acredita que se pode e deve ensinar coisas como Economia, Matemática ou mesmo Gestão. Mas não - jamais! - Marketing e Publicidade.

Também aqui eu concordo em parte. O Marketing não é uma ciência, é uma arte ou um saber prático que se socorre de alguns conhecimentos de economia, sociologia, antropologia e estatística (entre outros) e de uma larga variedade de técnicas.

Como se adquirem então os conhecimentos necessários para trabalhar em Marketing ou em Publicidade? Uma hipótese - aquela que Pedro Bidarra parece preferir - consistiria na aprendizagem on the job. Mas como? Meramente frequentando departamentos de marketing e agências e convivendo com os profissionais do ofício?

Atrevo-me a afirmar que deixar a cada um o encargo de aprender através da sua experiência individual é uma forma muito ineficiente de educação. A coisa falha com demasiada frequência, mesmo quando existe uma vontade deliberada de orientar o aprendiz. Primeiro, porque quem sabe fazer não sabe forçosamente ensinar. Segundo, porque num ambiente de pressão laboral faltam tempo e pachorra para dar aos novatos a atenção que eles requerem.

Foi por isso que, historicamente, a educação formal substituíu em muitas profissões (é certo que não só com vantagens) o mero treino sob a direcção de um mestre.

O Pedro Bidarra aceita que se pode ensinar Gestão - uma certeza que a mim me espanta - mas desconfia da utilidade de cursos de Marketing, quando o currículo de um bom curso de Marketing deve coincidir pelo menos em 50% com o de um curso de Gestão.

Ora, há hoje uma desconfiança generalizada em relação ao modo como actualmente se ensina Gestão, dado que não só não se trata de uma ciência, como não faz qualquer sentido condicionar o acesso à profissão à posse de uma licenciatura na área. Ninguém é gestor pelo facto de tirar um curso de Gestão exactamente do mesmo modo que ninguém é publicitário pelo facto de tirar um curso de Publicidade.

Que género de coisas se pode então ensinar num curso de Publicidade? Tal como noutras profissões criativas (design, arquitectura, música, cinema) a actividade publicitária comporta uma dimensão técnica e outra de inspiração. A primeira pode-se ensinar, e a segunda pode-se estimular e treinar.

É isso que se faz em todos os países onde a publicidade atingiu um elevado nível (EUA, Inglaterra ou Brasil, por exemplo), mas não se faz cá. Entre nós confia-se demasiado no acaso do talento individual, o que ajuda a explicar o muito baixo nível médio tanto da publicidade como das restantes actividades criativas.

Eu não sei se as escolas portuguesas onde os jovens são introduzidos aos rudimentos da publicidade funcionam bem ou mal, porque ignoro os seus métodos e programas. Sei, porém, que ninguém pode ensinar aquilo que não sabe, e que em Portugal se valoriza muito o saber livresco e pouco os saberes adquiridos no exercício de uma profissão. Sei também que o ensino continua em geral a basear-se muito em palestras na sala de aula e pouco em trabalho aplicado.

Se o ensino de Marketing e Publicidade funciona mal - e eu acredito que assim seja - deveriamos empenhar-nos em fazê-lo funcionar melhor, não em argumentar absurdamente que essas coisas não se ensinam.

10.3.10

Papel ou electrões?

Bancos, telecomunicações, energia eléctrica, toda a gente me telefona a propor-me uma extraordinária benesse: substituição de extractos ou facturas em papel por documentos electrónicos.

É fantástico: prático, rápido, fácil de arquivar e, para cúmulo, protege as florestas e o ambiente.

Talvez, mas irrita-me que me tomem por parvo. Todos sabemos que o interesse deles não é nem o nosso bem-estar nem o do ambiente, mas a redução dos custos de produção e distribuição de documentos - uma pequena fortuna, como pode constatar qualquer pessoa que se dê ao trabalho de fazer as contas.

Justo seria, portanto, que repartissemos a poupança. Digamos, metade para eles, metade para mim.

Paguem-me para eu adoptar os extractos digitais, e fecharemos negócio. De outro modo, vão ter que continuar a aumentar os gastos em telemarketing, sem benefícios nem para eles, nem para mim, nem para o pobre ambiente.

5.3.10

Gosto disto

3.3.10

Uma lamúria


Há já uns bons aninhos, tive como cliente o director de uma empresa estrangeira que operava no mercado imobiliário e que um belo dia precisou de umas bandeiras com o seu logotipo para sinalizar o lançamento do seu primeiro projecto em Portugal. Pediu a indicação de um fornecedor e recomendaram-lhe uma loja que havia na Baixa, Casa das Bandeiras ou algo assim, que na altura era a referência para esse tipo de trabalho. O meu cliente ligou-lhes e disseram que, sim senhor, faziam as bandeiras. Só que levava um mês.

Por sorte, ele tinha outra solução. Ligou a um colega que vinha de São Paulo no dia seguinte. Durante esse mesmo dia as bandeiras foram encomendadas e produzidas. Dois dias depois desembarcavam na Portela, na bagagem do tal colega brasileiro.

Imagino que hoje já não será tão moroso produzir bandeiras com logotipos em Portugal. Mas lembrei-me disso ao reparar que quase todos os dias tropeço noutros exemplos de um país em que tudo tem uma tendência a levar tempo demais. É o sujeito que desde Outubro está apalavrado para ir lá a casa consertar uns armários e que até hoje – porque o funcionário não veio, porque choveu, porque marcou uma hora e chegou três horas depois, porque se esqueceu – ainda não veio resolver o problema. É a operadora de telefones que me vendeu um serviço 3 em 1 em Novembro e que desde então mantém o meu telefone mudo e os meus telefonemas sem resposta. É o cliente que ia mandar a nota de encomenda, mas não mandou – e que por isso ia pagar, mas ainda não pagou. É o fornecedor que só entrega o trabalho à custa de ser lembrado, e cobrado, e pressionado, e ameaçado. É a reunião que era durar vinte minutos mas que, como ninguém se preparou, leva três horas e chegando ao fim nada ficou decidido. E por aí vai.

Quando vejo as desoladoras estatísticas sobre a produtividade portuguesa, e os diagnósticos de doutos economistas sobre o assunto, gostaria de acreditar que é um problema que pode ser resolvido mas a minha fé vacila. As soluções, não digo fáceis, mas possíveis de implementar, e que aliás toda a gente já sabe quais são – melhor organização, melhores processos, mais formação, mais concorrência e logo custos mais baixos, melhor justiça, etc. – até poderão funcionar, mas só até ao ponto em que encontrarem essa barreira, omnipresente e ao mesmo tempo tão fugidia, dos hábitos, da “forma de estar”, daquilo que com uma imprecisão muito conveniente também podemos chamar de “cultura”. 

Barreira, aliás, nem é o termo. É mais um pó, uma espécie de areia, que grãozinho a grãozinho vai penetrando nas engrenagens do país e não o pára, mas emperra tudo.

Terá conserto?

2.3.10

É uma boa iniciativa, sim senhor

Às vezes mandam-nos pedidos de divulgação através deste blog que não fazem qualquer sentido. Mas o email que recebi hoje parece ser diferente.Confiram vocês:

"Boa tarde,

O EuSouCliente.com é uma nova plataforma online de relação entre consumidores e marcas.

Julgamos que pode ser uma ferramenta bastante útil para dar a conhecer aos leitores e seguidores do www.sanguesuoreideias.blogspot.com.

Reclamar, Sugerir e ser Fã. A internet em geral, e as redes sociais em particular, são cada vez mais usadas pelos consumidores como alternativa aos canais de reclamação tradiconais. É neste contexto que surge a plataforma EuSouCliente: Dando voz a todos os consumidores mas também espaço de resposta às marcas.

Ao fim de quatro semanas são já várias as interacções realizadas nesta nova plataforma, com destaque para a ZON que foi a empresa mais activa na utilização desse espaço dando seguimento a todas as reclamações e sugestões apresentadas.

Conheça o site (www.eusoucliente.com) e Divulgue a nova plataforma".

Falando por mim, bem preciso de um canal para pelo menos descarregar o mau humor que às vezes me causam algumas grandes empresas de serviço e os seus call centers, particularmente na área das telecomunicações, e particularissimamente, lá está, a ZON. Podem crer que vou usar o site.

1.3.10

14.2.10

A luta continua

"Greve virtual" das agências de publicidade na Bélgica: por uma boa causa, com uma ideia fantástica e uma execução excelente. Vale a pena ver: está lá tudo. Quem sabe não inspira o nosso mercado a fazer qualquer coisa?

1.2.10

"Fear the Boom and Bust" a Hayek vs. Keynes Rap Anthem

Cortesia do blog de Ken McCarthy.

HP Office Orchestra

28.1.10

Novidades, novidades



Se bem entendi, o iPad é apenas uma réplica melhorada do Tablet PC (ver acima) que a Microsoft lançou há meia dúzia de anos.

Por que falhou, na altura, o Tablet PC?

Tal como muitas outras pessoas, tenho um desktop em casa e outro no escritório, um portátil e um smartphone. Muita tralha, portanto.

Isto coloca diversos problemas. Um deles - o constante e confuso intercâmbio de ficheiros de uns computadores para outros - está em vias de resolução definitiva com as facilidades oferecidas por coisas como o googledocs ou zoho.

O outro problema - a portabilidade - ainda não. Toda a gente adoraria trocar os quatro ou cinco computadores que usa por um só, mas nem o Tablet PC nem o iPad são a solução.

Pelo contrário, a ideia da Apple parece ser obrigar-nos a acrescentar mais um dispositivo à já numerosa panóplia de equipamentos informáticos que hoje somos forçados a usar.

É claro que o iPad traz consigo algumas novidades genuinas - basicamente o écrã táctil e a facilidade de utilização que o aproximam do iPhone. Serão suficientes para, em combinação com o charme do Steve Jobs, transformarem o produto num sucesso?

26.1.10

Saiu na Meios e Publicidade

Media

"89% dos jornalistas utilizam blogues como fontes de informação

26 de Janeiro de 2010, por Ana Marcela
89% dos jornalistas utilizam blogues como fontes de informação e 65% utilizam redes sociais como o Facebook e Linkedin nas suas pesquisas de trabalho. Estas são algumas das conclusões do estudo realizado pela Cision e pela Universidade George Washington, ontem divulgado. O papel dos profissionais de relações públicas também foi objecto de análise neste estudo, tendo o mesmo concluído que 44% dos editores e repórteres entrevistados disseram depender de profissionais de RP para “entrevistas e acesso às fontes e peritos”, para ” respostas às perguntas e informações específicas” (23%) e para “perspectivas e informação no seu contexto e informações práticas” (17%).O estudo foi realizado junto a um universo de 9.100 editores e jornalistas norte-americanos."

23.1.10

Um bom anúncio conta uma boa história

21.1.10

Quem diria?

Todos os dias recebo por email na Ology umas quantas mensagens comerciais, mas é cada vez mais raro encontrá-las na caixa do correio.

Com frequência escuto anunciantes argumentarem que, sendo muito mais barata a comunicação directa digital, não fez sentido gastar-se dinheiro em papel e portes postais.

Adivinhem então quem é que me fez chegar esta semana uma mensagem em papel, envelopada em papel e distribuída pelos obsoletos correios de sacola às costas?

Pois é: nada menos do que o Google em pessoa, convidando-me a retomar o meu investimento regular no AdWords e aliciando-me com uma oferta de espaço grátis se a utilizar dentro de certo limite temporal.

Por que farão eles isso? Acaso não estarão informados de que existe uma coisa chamada internet, por meio da qual é possível endereçar publicidade baratérrima a quem quer que possua um endereço de email?

Eu apostaria antes noutra explicação. Eles sabem que, sendo embora incomparavelmente mais barato, o email tem todavia as desvantagens da banalização e da irrelevância, do que resultam taxas de resposta centenas ou milhares de vezes mais baixas.

Quanto mais se vulgariza o email e se entopem as caixas de correio electrónicas, mais valioso se torna o canal de direct mail tradicional.

O papel tem um peso simbólico incomparável. Impõe a sua presença e exige atenção.

Quem recebe uma comunicação em papel nos dias que correm, sabe que o emissor investe a sério na criação ou consolidação de um relacionamento com o destinatário. Por isso, em vez de disparar milhões de emails a ver se pega, não hesita em gastar dinheiro de verdade para atingir os seus propósitos.

Deixemos o vápido email aos amadores. Os direct marketers que se prezam não desistirão tão cedo de recorrer aos suportes físicos para chegarem à fala com os seus clientes.

Será isto tão difícil de entender?

7.1.10

6.1.10

Pela boca morre o peixe



Sublime ironia: esta campanha demagógica foi para o ar pouco antes de as tempestades de Dezembro terem posto a nú o pouco caso que a EDP faz dos seus clientes.

No Oeste, houve quem ficasse sem electricidade durante uma semana, porém a principal preocupação da EDP foi explicar que, legalmente, não lhe poderia ser assacada qualquer responsabilidade - leia-se: exigida qualquer indemnização.

Mas não teria sido esta uma excelente oportunidade para a EDP "dar o que tem a mais a quem tem a menos"?