Estava eu a vasculhar as prateleiras da FNAC, quando ouvi este diálogo ao meu lado:
«Eh pá! É mesmo este livro que eu tenho que comprar!»
«Então leva...»
«Não sei... A capa está muito estragada. Não gosto de comprar livros com ar velho. Ainda por cima é caro.»
«Tens aqui outro.»
«Esse ainda está pior. Será que eles têm mais?»
«Desconfio que não. Leva esse.»
Olhei para o lado e constatei que o livro que a rapariga tinha na mão era o meu. Apeteceu-me dizer-lhe que seguisse o conselho do namorado. O que interessa é o conteúdo, porque o livro, se for mesmo lido e usado, e isso acontece principalmente com os melhores, acaba sempre por ficar um bocado estragado.
Mas, é claro, não disse nada. Para falar verdade, até olhei para o lado. Se eles me identificassem pela foto da contracapa, eu ia ficar embaraçado.
«Eh pá, não levo mesmo. Hei-de arranjá-lo noutro lugar.»
«Tu é que sabes...»
Foram-se embora. Uma venda a menos! Por este andar nunca mais enriqueço. Fiquei a pensar que tenho que falar ao Manuel Robalo, o meu editor, para dizer-lhe não sei bem o quê.
Desloquei-me para o escaparate ao lado. Entretive-me a folhear o «Free Prize Inside», do Seth Godin, que a propósito, é altamente recomendável, como de resto quase tudo o que este tipo escreve.
Foi então que eles voltaram e que a conversa recomeçou nas minhas costas:
«Por outro lado, eu quero mesmo o livro.»
«Leva!»
«Achas? OK, está decidido: vou levá-lo»
Esta miúda tem um bom namorado, coisa de quem nem toda a gente se pode gabar. Que Deus o conserve.
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Há 3 anos
1 comentário:
ahahah adoro estas estórias ... "slice of life" como dizem os meus colegas publicitários.
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