3.3.05

Market Research

Estava eu a vasculhar as prateleiras da FNAC, quando ouvi este diálogo ao meu lado:

«Eh pá! É mesmo este livro que eu tenho que comprar!»

«Então leva...»

«Não sei... A capa está muito estragada. Não gosto de comprar livros com ar velho. Ainda por cima é caro.»

«Tens aqui outro.»

«Esse ainda está pior. Será que eles têm mais?»

«Desconfio que não. Leva esse.»

Olhei para o lado e constatei que o livro que a rapariga tinha na mão era o meu. Apeteceu-me dizer-lhe que seguisse o conselho do namorado. O que interessa é o conteúdo, porque o livro, se for mesmo lido e usado, e isso acontece principalmente com os melhores, acaba sempre por ficar um bocado estragado.

Mas, é claro, não disse nada. Para falar verdade, até olhei para o lado. Se eles me identificassem pela foto da contracapa, eu ia ficar embaraçado.

«Eh pá, não levo mesmo. Hei-de arranjá-lo noutro lugar.»

«Tu é que sabes...»

Foram-se embora. Uma venda a menos! Por este andar nunca mais enriqueço. Fiquei a pensar que tenho que falar ao Manuel Robalo, o meu editor, para dizer-lhe não sei bem o quê.

Desloquei-me para o escaparate ao lado. Entretive-me a folhear o «Free Prize Inside», do Seth Godin, que a propósito, é altamente recomendável, como de resto quase tudo o que este tipo escreve.

Foi então que eles voltaram e que a conversa recomeçou nas minhas costas:

«Por outro lado, eu quero mesmo o livro.»

«Leva!»

«Achas? OK, está decidido: vou levá-lo»

Esta miúda tem um bom namorado, coisa de quem nem toda a gente se pode gabar. Que Deus o conserve.

1 comentário:

hidden persuader disse...

ahahah adoro estas estórias ... "slice of life" como dizem os meus colegas publicitários.