Na corte de Luís XIV havia um alto funcionário, o senhor Toussaint Rose, conhecido como o titular da pluma.
O senhor Rose era um dos quatro secretários pessoais do Rei, mas o seu estatuto era incomparavelmente superior ao dos outros três. A sua singularidade resultava de dois dons muito particulares que o tornavam verdadeiramente insubstituível.
Em primeiro lugar, a caligrafia do senhor Rose era virtualmente indistinguível da do Rei. Assim, todos os soberanos europeus, mas também nobres franceses, titulares de cargos políticos ou eclesiásticos e altas patentes militares eram levados a crer que o soberano se dera ao cuidado de lhes escrever pelo seu próprio punho as longas cartas que dele lhes chegavam.
Essa marca de particular distinção era motivo de particular orgulho para todos eles, graças aos esforços do incansável senhor Rose.
Nessa capacidade, porém, o senhor Rose não era mais do que, digamos assim, um falsificador de cartas autênticas.
Todavia, Luís XIV foi-se apercebendo a pouco e pouco de que o senhor Rose era também capaz de pensar como ele. Isto é, por força do íntimo e prolongado convívio entre ambos, o senhor Rose conseguira penetrar na intimidade do pensamento do Rei e entendê-lo como ninguém. Ele sabia como o Rei reagiria em determinada situação e conseguia por isso antecipar o que ele quereria dizer em tais ou tais circunstâncias.
Tal era a confiança de Luís em Rose que, com grande frequência, nem sequer se dava ao trabalho de ler a cartas que ele lhe propunha antes de lhes apor a sua assinatura.
Como se pode ver, o senhor Rose era um pouco a agência de publicidade ideal: fiel não só ao estilo como à própria essência das marcas que lhe são confiadas. Não há muitos como ele. Se encontrarem alguém assim, não hesitem em confiar-lhe a vossa pluma.
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Há 4 anos
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