Então temos no ar mais uma campanha de sensibilização, desta vez em prol do «Portugal Imigrante». Para mim, que sou ao mesmo tempo o target e o produto promovido, a campanha soa simpática – a não ser por um detalhe que estraga tudo.
O argumento central – estes sujeitos estão aqui a trabalhar porque precisamos deles – é racional e evita o paternalismo baseando-se num benefício. Para contrabalançar esse apelo ao interesse próprio, o tom da campanha é emocional e próximo. Resulta.
O detalhe que estraga tudo, porém, é a palavra «tolerância». Não é que seja uma invenção da campanha. Em todo o lado essa «tolerância» para com os estrangeiros, as «etnias» não europeias, os «diferentes», é promovida como se fosse um valor positivo. Mas não é.
Tolerar é aceitar, por magnanimidade, resignação ou comodismo, um mal qualquer que se consiga suportar. Fala-se em tolerar a prostituição, as drogas leves, as birras dos velhos e os berros das crianças, as pequenas contravenções à lei. Mesmo a «tolerância religiosa» vem de um tempo em que havia uma religião, a única e verdadeira, e as outras eram isso: toleradas. Não respeitadas ou aceites; apenas toleradas, sempre nas condições e pelo tempo que a autoridade decidisse, e com noites de cristal ou de São Bartolomeu pelo meio, para lembrar que a tolerância tem limites.
Como imigrante, eu não quero ser tolerado. Quero respeito, oportunidades, deveres e direitos como qualquer outro cidadão. O «Portugal imigrante, Portugal tolerante» faz calafrios: trai uma atitude muito diferente daquela que a campanha quer passar.
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Há 4 anos
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