10.11.06

Não está certo abusar da credulidade da juventude



O que é o contrário do amarelo? O que é o contrário de tirar um curso de medicina? O que é o contrário de escrever um livro?

Tantas perguntas. Nenhuma resposta.

Quando alguém nos aconselha: "Whatever you think, think the opposite", que espécie de conselho está a dar-nos ? Poderemos tomá-lo a sério?

Será que Paul Arden fez um livro ao contrário quando fez o seu?

Vejamos.

Os best-sellers da literatura de negócios têm todos um certo número de coisas em comum:

1. Assentam numa ideia muito simples, usualmente trivial;

2. Escarrapacham-na na capa de uma forma apelativa para pessoas preguiçosas ou ignorantes, que anseiam ter êxito sem precisarem de se esforçar muito na vida;

3. Têm pouco texto, composto com letras muito grandes e organizado em parágrafos telegráficos;

4. Fogem a raciocínios complicados;

5. Repetem ad nauseam as mesmas ideias (?) simples recorrendo a uma mão cheia de historietas;

6. Descem ao nível de compreensão de qualquer analfabeto;

7. Enchem o livro de bonecos que incentivam os curiosos a folhearem-no.

Será que Paul Arden fez o contrário disto?

No way! Pelo contrário, esforçou-se por levar até ao limite esta lógica que comprovadamente agrada a mentecaptos e assegura o sucesso editorial a qualquer autor da treta.

Em Inglaterra, um livro deste não faz muito mal, porque os jovens aprendem nas escolas a trabalhar a sério. Um bocadinho de desbunda até pode ajudar a desformatar espíritos excessivamente condicionados.

Entre nós, porém, é desastroso. Porque por cá abunda o talento, mas fazem falta o pensamento disciplinado e o profissionalismo. Receitas que prometem felicidade sem dor são aceites acriticamente por se adequarem tão bem à mentalidade supersticiosa reinante.

A questão não é, acreditem-me, fazer meramente ao contrário, é diferenciarmo-nos de forma significativa e relevante. E, para isso, é preciso começar por aprender muito, trabalhar muito e pensar muito.

3 comentários:

Junior Carvalho disse...

Joao,
Acho que o ponto chave da questao é realmente o do aprender a aprender, como voce disse a respeito das escolas inglesas. Nas escolas brasileiras por exemplo, o ensino está mais voltado para o "decorar" do que para o "aprender a buscar", "aprender a criticar", "saber diferenciar", e assim por diante. Acho que a base (ruim) da educaçao favorece sucessos literários como um montao de livros de auto ajuda e etc que surgem diariamente.
Abraço

Anónimo disse...

Muito bacana teu texto. gGosto do blogue. Ja o dicionei ao google reader. Abraço.

Rosa Cueca disse...

Esse conselho pode ser útil quando estamos à procura de uma boa ideia publicitária...Agora, devo dizer que este tipo de livros não me atrai por aí além.

Custa-me um bocado olhar para livros como "Quem mexeu no meu queijo" e toda a gente dizer que é o máximo, óptimo para ter sempre à mesinha de cabeceira.
São ratos. O livro está repleto de metáforas que já devíamos saber desde a primária. Entediou-me, devo dizer.

Claro que este livro pretende ser uma coisa que o que anteriormente referi não quer.
Mais, até acho que se as pessoas o lerem é bom sinal, ao menos estão a ler e a mostrar interesse..

Mais cedo ou mais tarde aprende-se que a realidade não é tão fácil como fazer papas maizena. Há quem tenha visto esse prisma desde sempre e há quem ainda tenha de o ver.

Quanto à Educação, não podia estar mais de acordo, o que não falta é a preguiça para trabalhar...Devoram a teoria e não conseguem ter um espírito crítico sobre o que lêem.
Decorar é a ordem do dia, especialmente, na véspera.