16.1.07

A imagem do Primeiro-Ministro

No passado mês de Dezembro, a "Meios & Publicidade" colocou-me a seguinte pergunta: "José Sócrates é o primeiro-ministro, dos últimos anos, que melhor sabe gerir a sua imagem?" Eis a minha resposta:

Se o primeiro-ministro mantém invejáveis índices de popularidade e, sobretudo, de intenções de voto ao cabo de dois anos de políticas financeiramente duras, só pode ser, insinua-se, porque sabe trabalhar a sua imagem.

Há aqui uma sugestão óbvia de que a gestão da imagem, no sentido da construção de uma percepção distorcida da realidade, é essencial para o sucesso de um político. Ora a mim parece-me que o recente fracasso de Santana Lopes, alguém permanentemente obcecado com as aparências, deveria ter enterrado definitivamente esse preconceito.

Nos dias de hoje, os políticos vivem acossados. Todas as suas acções, omissões, desabafos, declarações e até silêncios, públicos e privados, são continuamente escrutinados por um batalhão de jornalistas nem sempre escrupulosos. Os seus discursos são vasculhados de cabo a rabo em busca de alguma expressão infeliz susceptível de expô-los à execração pública. O seu passado longínquo, incluindo estarolices juvenis e desvarios sexuais, são investigados ao pormenor e trazidos ao nosso conhecimento.

Consequência inevitável: nós sabemos incomparavelmente mais sobre o primeiro-ministro do que sobre os nossos familiares mais próximos. Como poderá então o pobre infeliz compor uma imagem embelezada de si próprio sem que ela seja prontamente desmentida? Baldadas as esperanças de manipular a opinião pública, tudo o que pode fazer é realçar sempre que possível os seus pontos fortes ao mesmo tempo que tenta que os fracos passem despercebidos.

A mim parece-me que o actual primeiro-ministro se está bastante nas tintas para a sua imagem, no sentido em que continua a comportar-se como sempre se comportou. Tanto assim é que frequentemente o vemos acusado de arrogância e de indisponibilidade para o diálogo. Alguém que cuidasse antes de mais da sua imagem nos media certamente não tomaria a iniciativa de acabar com os privilégios da assistência na doença aos jornalistas.

2 comentários:

Unknown disse...

Cara, parabens pelo blog!! Muito loko!!! Sempre que busco atualidades sobre o mercado publicitario na net eu recorro a ele. A proposito vc ficou sabendo da promocao do Yazigi que ta sorteando um xbox por semana?! Da uma olhada, achei bem interessante a mecanica interativa e tem tudo a ver com o blog…

Edie Falco disse...

Eu creio que os altos índices não devem ser creditados apenas a um bom trabalho de imagem... os portugueses já deram provas que são muito mais crescidinhos do que o preconceito de que são todos nabos manipuláveis. Podem até ser por um tempo, mas quando topam, adeus (vide a popularidade e a influência de Marcelo Rebelo de Sousa, ontem e hoje). Os altos índices de Sócrates devem-se sobretudo ao facto de que toda a gente já percebeu, por mais que isso custe, que a continuação do estado em que se encontra a justiça e a economia deste país, levará todos nós à bancarrota e à perda de valor do nosso trabalho. Há resistências, mas todos sabem que era preciso um Sócrates. Se calhar, ainda mais reformador, resta a esperança de que no segundo mandato o Primeiro Ministro consiga, com a ajuda do presidente da República (uma grata surpresa– e olhe que eu votei em Soares), desmantelar a legislação laboral vigente e toda a quinquilharia do 25 de Abril que impregnam a constituição.