"Achaste bonito?" Esta é e forma errada de discutir a reformulação gráfica do Público. Presumindo que os designers que a conduziram serão minimamente competentes, o natural é que o resultado seja minimamente "bonito".
Para avaliar seriamente este projecto é preciso entender-se as ideias que o enformam e verificar se elas constituem uma resposta adequada às pressões competitivas a que o jornal se encontra sujeito.
No Diário Economico de ontem encontrei a seguinte declaração de um responsável do Público: "Pensámos no novo Público como se não houvesse Público." Que quer isto dizer?. No mesmo artigo, lemos também: "A remodelação é mais uma refundação."
Eis, pois, a ideia orientadora da transformação. Infelizmente, não me parece uma boa ideia.
Muita gente acha que o activo mais precioso que uma marca possui é a sua base de clientes. A Direcção do Público, pelo contrário, acha que os seus leitores são descartáveis e, por conseguinte, prepara-se para os deitar fora. É como se o jornal - que, no fundo, não passa de uma comunidade de leitores - nunca tivesse existido - e tivesse que ser refundado - ou seja, reconstruído sobre novas fundações.
Já escrevi noutra ocasião que este desprezo pelos seus leitores de que o jornal tem dado repetidas provas nos últimos anos me parece uma loucura. O Público existe porque há pessoas - aparentemente cada vez menos - que gostam dele. Mas a Direcção acha que existe porque ela assim o quer. Eis um projecto jornalístico verdadeiramente neocon.
Em Portugal, já se sabe que, quando uma marca não sabe mais que fazer, muda o logotipo. Trata-se, evidentemente. de uma forma de superstição como qualquer outra.
Neste caso, porém, parece-me que, mais do que mudar de nome, o Público muda de nome - para P. É normal: um jornal que teve suplementos chamados Xis, Dia D e Y, e que se prepara para lançar o épsilon, mais cedo ou mais tarde teria mesmo que adoptar o nome de P.
Por conseguinte, o jornal quer alijar os leitores do Público e angariar novos clientes para o P. Quem serão eles? Talvez as promoções lançadas pelo jornal nos ajudem a esclarecer este ponto. Informa-me o Diário Económico de que são elas: a) sampling junto de empresas; b) projecção do logotipo em edifícios e c) ofertas de viagens em balões de ar quente.
Sampling, recorde-se, quer dizer amostragem. É muito recomendada para lançar novos produtos junto de novos clientes. Os gestores ainda não conhecem o Público? Não estão disponíveis para esportularem uns cêntimos em troco da P?
A ideia de projectar o logo parece-me boa: sempre que se tem algo insignificante entre mãos faz sentido ampliá-lo.
Finalmente, a quem interessarão as viagens de balão? Ah, é claro, aos jovens! Mas não nos dizem todos os dias que a população está a envelhecer? Mesmo admitindo que os jovens estarão disponíveis para adquirir hábitos de leitura de jornais diários, serão eles em número suficiente para substituir os velhos leitores que a refundação do jornal decidiu ignorar?
Desisto. Decididamente, não consigo entender a estratégia de marketing do P.
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Há 4 anos
3 comentários:
Isto lembra-me o caso da Coca Cola...
Por uma pergunta mal formulada, esqueceram-se 40% dos consumidores, em detrimento de 60% que gostavam de um novo sabor. Não correu bem.
Parece-me que o novo P ficou algo encadeado pelo sol e decidiu que devia fazer alguma coisa, ainda que trabalhassem target's diferentes.
Alguém se lembrou que seria interessante mexer no Público, o que até posso concordar, mas este jornal sempre foi conhecido por ser sério, até elitista e agora aparecem com um P engraçado e estilizado. Pois muito bem, é esperar para ver.
Acho que o que vai acontecer ao Público vai ser uma profunda remodelação tanto ao nível dos conteúdos como ao nível da linguagem, pois, como já foi referido anteriormente o Público sempre foi conhecido por ser um jornal sério e elitista.
Quanto ao cortar de amarras com o passado é uma decisão que devemos respeitar, no entanto não podemos deixar de criticar o facto de simplesmente desprezarem os actuais leitores, num meio em que existem já algumas publicações dirigidas aos jovens vamos ver como se safa o P.
O "P" vai continuar a perder leitores, isto é o que vai acontecer. Foi o verdadeiro tiro no "P", pois as alterações foram no sentido de esbater ainda mais os diferenciais do Público em relação aos outros diários. Se a intenção foi fazer um jornal mais "popular" e menos elitista, obrigadinho... por mais esta opção, dentre tantas. Que ironia do destino. Contra todos os prognósticos de há 6 meses atrás, o Expresso afirma-se cada vez mais como o jornal Português mais fiável de se apostar no futuro.
Só nos resta continuar a comprar pavlovianamente o Expresso (sem saber exactamente a razão) e passar a acompanhar as notícias diárias em sites. Se calhar a ideia é essa.
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