A Galp tem no ar uma campanha para encorajar as pessoas a partilhar o automóvel, através do seu novo serviço GalpShare. Um dos argumentos, ora vejam, é a possibilidade de poupar combustível.
Louvável causa, e à Galp só fica bem uma atitude tão responsável. Mais louvável ainda (ou pelo menos é isso que se quer que pensemos) por estar a gasolineira a pregar contra os seus próprios interesses.
Não é caso sem exemplo. A Tabaqueira faz campanhas anti-tabaco junto dos adolescentes. Lembro-me de um filme premiado da TVE a ensinar às crianças espanholas que todos os televisores têm um botão de desligar.
No caso da Galp, no entanto, pergunto-me: será que a empresa acredita mesmo que a campanha funcionará – no sentido de levar muitas pessoas a uma mudança de comportamento que reduza significativamente o consumo?
Não sei por quê, mas cheira-me que não. Em todo o caso, como aqui há um instrumento de medida objectivo, não há nada como esperar pelas adesões – e, mais ainda, o uso efectivo do serviço.
Seja como for, para a Galp, a verdadeira medida da eficácia da acção não está provavelmente aí. Mesmo que as adesões não sejam grande coisa, a campanha já fez o seu trabalho de imagem. Se as adesões forem muitas, mas depois a ferramenta não tiver grande uso, a Galp já tem mais uns quantos consumidores envolvidos e identificados. E, ainda que o GalpShare seja usado de facto por bastante gente e por bastante tempo, não é de prever – com as cidades e os hábitos culturais que temos – que faça grande mossa ao consumo de carburantes. O que, para a Galp, estará perfeitamente OK.
Resumindo: do ponto de vista da Galp, quanto menos eficaz a acção for, mais eficaz será. Estarei enganado?