Ouvi hoje a Directora de Marketing da Galp contar numa conferência pública que, quando, em Abril último, lançou a campanha Galp Share, uma colega lhe terá perguntado qualquer coisa do género: "Então agora fazemos campanhas para vender menos gasolina?"
Segundo entendi, a resposta a esta compreensível inquietação assenta em dois argumentos distintos.
O primeiro consiste em fazer notar que as preocupações com a poupança energética existem quer a Petrogal queira ou não, pelo que o melhor será mesmo tomar a iniciativa em vez de esperar que o pior aconteça.
Em termos genéricos, parece-me bem. Mas que pode de facto a Galp fazer para se proteger da mencionada ameaça? Desenvolver gasolinas e gasóleos mais eficientes? Descobrir combustíveis alternativos não derivados do petróleo? Preparar-se para abastecer os automóveis movidos a electricidade em vez de motores de combustão?
Isso, sim, seria uma resposta estratégica às preocupações da opinião pública, mas ignoro se a opção tem alguma viabilidade. De uma coisa, porém, estou certo: persuadir as pessoas a poupar gasolina pode ser muito louvável, mas não resolve o problema que est+a colocado.
O segundo argumento deveria ser antes considerado uma especulação. Consiste, segundo ouvi, em esperar que as poupanças que os consumidores farão nos dias úteis lhes permitam gastar mais gasolina quando passeiam ao fim de semana. Porém, se isso acontecesse (o que não tem grande lógica), o propósito inicial de promover a poupança seria inteiramente anulado.
De modo que faz sentido perguntar o que pretende de facto a Galp com esta campanha. A partilha de veículos terá sempre, ao que suponho, um impacto marginal (para não dizer desprezível) no consumo de gasolina.
Logo, a empresa deve estar convencida que uma iniciativa cosmética destituída de real impacto lhe permitirá limpar a imagem de insensibilidade ambiental e manipulação dos preços em concertação com os concorrentes.
Talvez seja apostar em excesso na ingenuidade do público, não?
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Há 4 anos
2 comentários:
A gasolina é uma "energia suja" (combustíves fósseis). Já a electricidade pode ser uma "energia limpa" (dependendo das fontes). Quando os carros eléctricos ganharem massa crítica quiçá daqui a 20 anos, a EDP fica como os postos da Galp :)
Se virmos as campanhas que a Chevron tem feito, reparamos que eles estão no mesmo barco: sejamos realistas não há grandes alternativas ao petróleo, mas nós estamos preocupados com o planeta, ande mais a pé, ande menos de carro ... a retórica do costume a roçar o "greenwashing dilemma".
eu vejo isto como simples hipocrisia.
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