Há em Portugal uma estranha sobre-valorização dos métodos quantitativos na investigação de gestão e marketing, bem visível na nada subtil pressão que os alunos de mestrado sofrem para privilegiá-los na elaboração das suas teses.
Nada na teoria ou na prática da gestão justifica esse enviezamento. Por muito úteis que sejam, os métodos quantitativos têm limitações conhecidas e evidentes, de sorte que não só muita da mais relevante produção teórica internacional é de cariz qualitativo como no dia a dia da atividade empresarial é a esse tipo de pesquisa que mais frequentemente se tem que recorrer.
De modo que a preferência pela análise estatística e econométrica ficará provavelmente a dever-se mais ao facto de os professores se sentirem aí mais à vontade do que à preocupação de fomentar competências úteis para a vida profissional.
Acresce que a investigação qualitativa é mais exigente para quem a faz, dado requerer mais cultura geral, mais seriedade no estabelecimento de conclusões e na sua apresentação e maior proficiência no desenvolvimento de argumentos complexos.
Reconhecendo eu as minhas próprias limitações no que toca a metodologias qualitativas, tenho nos últimos tempos procurado suprir essa falha.
"A Arte da Investigação com Estudos de Caso", de Robert E. Stake, proporciona uma valiosa introdução a uma técnica de investigação ao mesmo tempo tão relevante e tão mal compreendida, lamentando-se apenas a medíocre qualidade da tradução portuguesa editada pela Fundação Gulbenkian.
2 comentários:
Não podia concordar mais consigo. Aliás, senti a referida "nada subtil pressão" por parte da U. Algarve, quando fui seu aluno. Realmente, é uma falsa ideia a de que uma tese (ou outro estudo qualquer) fique mais completo com estudos quantitativos. Como dizia um antigo professor meu de contabilidade, "o papel aceita tudo"...
Concordo inteiramente consigo. Senti a referida "nada subtil pressão" aquando da frequência do mestrado da U. Algarve. É, de facto, uma falsa impressão a de que uma tese (ou qualquer outro estudo) seja mais útil apenas e só por conter estudos quantitativos. Como dizia um antigo professor meu de Análise de Projecto, "o papel aceita tudo"...
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