Os manuais de microeconomia pretendem que o propósito de uma empresas é a maximização do lucro, mas isso não é nem deve ser verdade.
A maximização do lucro é, nesses manuais, reduzida a um modelo de optimização sujeita a restrições; no mundo real, porém, a ideia é destituída de todo e qualquer alcance. Nenhum gestor sabe o que, em termos práticos, poderá significar a exigência da maximização do lucro, muito menos como alcançá-la.
Mais interessante ainda, Jim Collins demonstrou em
Built to Last e
Good to Great que as empresas mais rentáveis atribuem uma baixa prioridade à rentabilidade, a qual se revela, na prática, um resultado colateral, ou sub-produto, de uma série de coisas que podemos genericamente designar como paixão pela excelência estribada numa sólida visão de negócio.
A doutrina que concede toda a prioridade ao lucro não é, pois, uma teoria empírica, mas uma prescrição que visa justificar a total subordinação da gestão empresarial aos interesses dos acionistas em detrimento de todas as restantes partes interessadas (trabalhadores, clientes, parceiros, fornecedores, comunidade local e comunidade nacional).
Na verdade, a empresa bem gerida procura manter uma relação equilibrada com os diversos
stakeholders, na consciência de que, se não o fizer, cedo ou tarde será penalizada, tanto mais quanto mais grosseiramente violar os direitos de alguma ou várias delas.
Pode-se argumentar que a Jerónimo Martins existe há mais de dois séculos, devendo por isso ser considerada bem gerida. Note-se, porém, que, ao longo de todo esse tempo, não conseguiu evoluir de forma consistente para atividades mais produtivas e de maior valor acrescentado. Começou no retalho alimentar e no retalho alimentar permanece ao cabo de tanto tempo.
Nos anos 50 do século passado beneficiou do regime protecionista de então para se associar à Unilever na FIMA, mas desde então falhou as tentativas para reforçar a sua componente industrial.
O desempenho do grupo é sem dúvida satisfatório para os acionistas, mas ele pouco ou nada tem contribuído para criar postos de trabalho qualificados ou desenvolver novos negócios assentes em tecnologias ou métodos de gestão inovadoras. Não iremos longe as grandes fortunas do país estiverem associadas a empresas com tão frágeis competências distintivas.
2 comentários:
Como é que se pode dizer isso de uma empresa que emprega milhares de pessoas em Portugal, talvez a que mais emprega?
O que dizer da ajuda que a empresa dá aos seus funcionários, nomeadamente aos mais carenciados? Não, não é um modelo de responsabilidade social, mas não percebo como é que continua a sua saga contra uma empresa que até tem um presidente que diz umas verdades? Será por isso que é tão enxovalhado por alguns?
É muito triste que este "Jonh" considere a mera manifestação de uma opinião fundamentada uma "saga contra uma empresa".
Sem falar de que, obviamente desconhece o significado da palavra "saga".
Enviar um comentário