1.5.12

Falta o pão, resta o circo



Os rocambolescos acontecimentos de hoje nas lojas da cadeia Pingo Doce, com confrontos e feridos confirmados à mistura, sugerem que, em Portugal, os saques aos supermercados são organizados pelos seus proprietários. Temos capitalistas muito à frente.

Como se pode constatar pela leitura dos múltiplos comentários sobre o assunto que proliferam na net, nada disto contribui para melhorar a já degradada imagem que o marketing tem entre a população mais instruída.

Terá a iniciativa sido um sucesso para o Pingo Doce do estrito ponto de vista comercial? Não há dúvida que a insígnia conseguiu mais uma vez chamar a atenção para si própria e que terá batido todos os seus records de vendas num só dia.

Embora o Pingo Doce não tenha propriamente necessidade de aumentar a sua notoriedade, publicidade gratuita é sempre bem vinda. Além disso, terá reforçado o seu posicionamento de preço baixo face ao seu concorrente mais directo, que é o Continente.

Por outro lado, mesmo ignorando uma possível condenação por concorrência desleal, a empresa tornou-se responsável por cenas degradantes que ofendem a consciência de muitos de nós. É difícil negar-se que o estado de necessidade de muita gente foi objectivamente transformado num espectáculo ao serviço da estratégia promocional do Pingo Doce.

Tampouco é bonito pôr consumidores contra trabalhadores (forçados a trabalharem no 1º de Maio), situação que, naturalmente, terá desagradado a muitos deles, para mais nas condições de caos, grande incómodo e algum perigo em que foram colocados.

Talvez isto não preocupe muito a administração do Pingo Doce, que, consabidamente, mantém uma relação muito descomplexada com a ética empresarial. Apesar disso, mesmo que muita gente se sinta indignada, não lhe restam grandes alternativas viáveis para fazerem as suas compras.

A degradação da reputação de uma empresa pode não provocar prejuízos imediatos, especialmente quando ela detém uma vantagem competitiva evidente. Todavia, em igualdade de circunstâncias, situação que tarde ou cedo ocorrerá, a má vontade de clientes, fornecedores, parceiros e colaboradores acabará por fazer-se sentir.

Mas suponho que este já será um raciocínio excessivamente abstracto para os gestores do Pingo Doce.

1 comentário:

Anónimo disse...

O consumidor que lá foi e que perdeu 4 horas para entrar e pagar, está se a "marimbar" para as cenas tristes, porque esse tipo de consumidor procura preço baixo a qualquer custo.

De salientar que iniciativas semelhantes de Desconto elevado ocorrem em NY, Alemanha, etc...

Com os mesmos resultados.