4.3.04

Assombrações

Não, não queria entrar na cansativa discussão sobre se os fantasmas são ou não batota. Claro que são e, como toda batota, tudo está em não dar muito nas vistas. O que não é difícil (uma vez que toda a gente é contra mas ninguém é bufo, e não podemos ser desunidos se queremos o progresso do país) desde que não se tenha o azar de chegar perto de um grand prix ou algo parecido. Ou seja, desde que não se queira dar nas vistas. Mas, nesse caso, para quê fazer fantasmas? Complicado. Foi assim o ano passado, será que este ano não vai ser diferente?

Ooops. Não queria entrar na discussão mas lá fui eu. Sorry. Do que eu queria mesmo falar não era desses fantasmas. Na Veja desta semana, um artigo de Roberto Pompeu de Toledo sobre a figura de um ghost writer, protagonista de "A Sombra do Meio Dia", de Sérgio Danese, fez-me pensar em nós, criativos publicitários. Ocorreu-me que ghost writers (ou ghost artists) é o que somos, pondo o nosso pouco ou muito talento ao serviço do que anunciamos. Para isso convém que nos apaguemos, abrindo mão não só de pôr o nome em cada obra, mas também do que quer que se pareça com um estilo próprio. Quando brilhamos, é porque fizemos a marca brilhar tanto que até sobrou um bocadinho para nós (lindo isto, não?).

E vai daí, lá vem de novo a batota. Quando, inconformados de esperar por essas migalhas, inventamos anúncios que nenhum anunciante pediu, nascem os ghosts. E nós, ghost writers, tornamo-nos fantasmas de fantasmas. Deveria ser o cúmulo da inexistência. Mas, para muito boa gente, tem sido a forma mais eficaz de se conseguir ver ao espelho.

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