26.2.07

Psicopatologia do serviço no Metropolitano de Lisboa

Chega à estação de Metro do Campo Grande um comboio proveniente de Telheiras. A maioria dos passageiros precipita-se para tentar apanhar uma outra composição que lá se encontra estacionada e cujo destino é o Rato.

Esforço inútil, porque, indiferente a essa pretensão, o seu condutor encerra de imediato as portas e arranca.

Entendo - embora não aceite - o comportamento daqueles funcionários ranhosos que prestam um mau serviço para evitarem trabalho e chatices. Neste caso, porém, estamos perante alguém que, a menos que fosse salvar o pai da forca, não retirou nenhum evidente benefício pessoal de ter deixado umas dezenas de infelizes plantados na estação.

Trata-se, obviamente, de um psicopata. Mas então, pergunto eu, os testes psicológicos de recrutamento do Metropolitano de Lisboa não detectam essa maleita?

9 comentários:

Edie Falco disse...

Agora multiplica isso por centenas de "funcionários públicos"... ou balconistas... ou empregados de mesa... ou... directores de marketing...ou políticos da direita... políticos da esquerda... e vc tem uma mão cheia de psicopatas.

Salazar explica.

Desculpe, nada contra, é só uma constatação.

Edie Falco disse...

Só mais uma coisa: essa psicopatologia já está toda analisada e diagnosticada, basta ler José Gil, ou alguns artigos de António Barreto. Esse funcionário está a se marimbar para o próximo, enfim, a relação que o português tem com o outro no espaço público já se sabe o que é.
E era tão simples resolver o problema, bastava alterar o artigo da Constituição Portuguesa que proíbe os despedimentos. No dia que isso for resolvido, e as pessoas todas (não só os funcionários públicos) tiverem a qualidade do seu trabalho à mercê do julgamento do cliente ou utente, haverá a verdadeira revoluçãod a eficiência neste país. Um choque. Não é nada de mais, não é nada que não aconteça com um emigrante quando chega em França ou Inglaterra.

João Pinto e Castro disse...

Não há nenhum artigo da Constituição a proibir os despedimentos. Aliás, não há nenhuma lei a proibir os despedimentos. Onde é que foi buscar essa ideia?

Edie Falco disse...

Pelo que me consta, é proibido por lei despedir um funcionário sem justa causa. Para despedir um funcionário dos quadros (e creio que o regime da função pública é ainda pior), só por falta grave, sendo que na maioria dos casos resultam em processos trabalhistas nos quais o empregado sempre é privilegiado pelos juízes. Por acaso estou a dizer alguma novidade? Salvo os contratos a termo certo ou o regime de recibos verdes, se um empregado quiser, nunca sai de uma empresa.
Não sou jurista, sou copywriter, mas isso é coisa que se ouve nos telejornais: para introduzir a flexibilidade laboral há que antes proceder a alterações na Constituição.
Fico surpreso com a sua surpresa...não me vai querer convencer da flexibilidade maravilhosa da lei Portuguesa, não?

Edie Falco disse...

Mais uma nota: eu sou parte interessada nesta flexibilização, porque trabalho a recibos verdes...

João Pinto e Castro disse...

É má ideia aprender Direito Constitucional e Direito do Trabalho nos telejornais.

Edie Falco disse...

A sua resposta é um bocado naquela de "não opine sobre o assunto legal pq vc não é jurista" . Não tenho de ser advogado para formular uma opinião sobre o assunto, até pq observo. É ou não um facto que a lei trabalhista em Portugal é das mais rígidas do mundo, no que toca à flexibilidade dos despedimentos? E que isso promove uma atitude de deixa andar, de desculpabilização, de irresponsabilidade, de laxismo?
E não estou com isso a passra um atestado de menoridade aos portugueses, a té porquê, a maior prova disso é a eficiência dos portugueses no estrangeiro, quando sujeitos a condições mais competitivas do mercado do trabalho.

João Pinto e Castro disse...

Não, não é um facto. É uma fantasia.

Edie Falco disse...

É uma fantasia? Ok, então leia no suplemento de economia do público de Sexta-Feira, 02 de Março de 2007, páginas 12 e 13, a reportagem "Quando todo o potencial não chega", que versa sobre a possibilidade do potencial da economia portuguesater chegado ao seu máximo, o que quer dizer que não há mais como crescermos para além de 1,2%., nas condições macroeconómicas vigentes no país. No destaque "Quatro receitas para aumentar o potencial de crescimento", uma delas é a promoção da flexibilização da lei laboral. Foram perguntar a logo quem, Carvalho da Silva, que curiosamente deu uma resposta semelhante à sua, "É uma treta", vá lá, você foi um pouco mais erudito e disse que é uma fantasia. Eu estou a dizer, o país ainda não acordou para o nível da desgraça que se abateu por sobre as nossas cabeças. Anda tudo a querer tapar o sol com a peneira. A globalização será (está a ser, isso é só o início) implacável com Portugal. Infelizmente para nós.