Pré-histórico como sou, cheguei a Portugal ainda antes do primeiro McDonald's. Calculem vocês há quanto tempo isso foi. Pois nesse tempo pré-cambriano espantou-me verificar que a rede, que estava em toda a parte, não estivesse por aqui. Alguns nativos apressaram-se a explicar que não havia nada mais natural. Não só o McDonald's mas a comida rápida em geral nunca seriam engolidos pelo gosto conservador do consumidor português. Somos de comer sentados, ensinavam-me, com a paciência necessária aos estrangeiros que nunca vão perceber a sério os costumes locais. Não somos como vocês, brasileiros, capazes de tudo - até de (argh!) acompanhar uma refeição com Coca-Cola.
Não fiquei lá muito convencido. Mas como de facto não percebia ainda muita coisa da terra, e o mais próximo do fast food que havia encontrado em Lisboa eram as sandes de pastel de bacalhau da rua das Portas de Santo Antão, dei o benefício da dúvida. Ainda mais porque quem me iluminava com tais pétreas verdades não eram uns leigos quaisquer, mas um director criativo, um dono de agência e dois ou três marketeers de grandes marcas.
Pois dois anos depois o McDonald's abria a sua primeira loja, e a seguir foi o que se viu. A Coca-Cola, entretanto, também tem sido vista em muitas mesas nacionais. Prever o futuro, já se sabe, é difícil, principalmente quando a bola de cristal são as nossas ideias feitas.
Lembrei-me disto a propósito da loja Starbucks que abriu há uns tempos em Alfragide, e na qual entrei pela primeira vez este fim de semana. Também já houve quem me garantisse que o conceito não teria a menor hipótese por estas bandas. Desta vez não por ser contrário às tendências locais, mas por ser redundante. Portugal, explicou-me o teórico em causa, tem uma tradição de bons cafés - no sentido em que o café em si é geralmente de qualidade (é verdade) e o preço (incluindo não só o consumo do produto mas a possibilidade de ocupar uma mesa pelo tempo que se quiser) extremamente razoável, principalmente se comparado com o resto da Europa. Um café aos preços do Starbucks há de ser bom para os americanos. Cá entre nós, não. Não pega.
Mas a verdade é que no centro comercial onde está o Starbucks passei por vários cafés "normais", com a bica a 55 ou 60 cêntimos e a selecção habitual de queques e quejandos, e todos tinham uma afluência também "normal". Já o Starbucks, com os seus cafés a 2 euros e tal e uma oferta nada habitual por aqui, e nada barata, tinha (e, ao que me dizem, tem sempre) uma fila até cá fora.
O consumidor português não é mais conservador do que os outros. Conservador é quem o julga assim, e teima em lhe oferecer sempre mais do mesmo.
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Há 4 anos
3 comentários:
[ lol... interessante a tua observação... para algumas famílias é local de peregrinação aos fins-de-semana... o starbucks ainda está só no começo... deixa-o expandir-se e os seus copos tornar-se-ão acessórios fashion! ]
Nao acredito que o Starbucks, venha a ser um "novo" McDonald's em Portugal. O starbucks é uma moda e um local engraçado para ir beber um café, mas não diariamente.
Pois, eu receio mesmo que venha a ser um sucesso! E receio pelos "velhos cafés" portugueses: com as suas cadeiras desconfortáveis de alumínio e o fórmica, espelho e azulejo nas parede e queques industriais...
Sobretudo em alturas de crise, estes pequenos "luxos" compensam a ausência dos maiores...
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