26.2.04

A língua a quem a trabalha

Acreditem: não deve haver sujeito menos patrioteiro do que eu, principalmente quando o que está em causa é um mero spot publicitário.

Apesar disso, também eu me sinto crescentemente irritado com a falta de bom-senso daqueles anunciantes multinacionais que, por preguiça ou forretice, não se dão ao trabalho de traduzirem as suas campanhas, ou que, quando o fazem, revelam um supremo desdém pelos indígenas.

Entre os primeiros contam-se aqueles que optam por claims do género «How are you?» ou «The Power of Dreams».

(Notem que eu não sou fundamentalista. Entendo, por exemplo, que coisas como «Made by Grundig» ou mesmo «Cuore Sportivo» fazem mais sentido, respectivamente, em inglês e italiano.)

Quanto aos segundos, estou a pensar fundamentalmente naquelas disparatadas dobragens em espanholês dos spots da Evax.

Agora, uma das mais surpreendentes não-traduções dos últimos anos é a do novo claim da McDonald’s («I’m loving it»), sob o pretexto, segundo li, de que não é possível traduzir adequadamente a frasezinha para português.

Pelos vistos os brasileiros não estão de acordo, e escolheram, muito simples e naturalmente, «Estou adorando». O que prova mais uma vez que, hoje, os verdadeiros donos da língua são eles, dado que nós somos demasiado saloios para investir nela e que os galegos, seus inventores, a trocaram nas últimas quatro décadas por uma versão manhosa do castelhano.

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