4.2.04

Navio na névoa



Quem não soubesse mais nada sobre comunicação deveria ao menos saber que o que comunica é a diferença.

Quem primeiro o explicou foi, creio, o Saussure, já lá vai um século.

O que isto significa é que não só a identidade das coisas como o seu significado resultam do modo como se contrapoem às restantes.

Sem diferença não há distinção entre a figura e o fundo, que é como quem diz: a mensagem dissolve-se na paisagem, ou, melhor ainda: nem sequer existe.

O nosso entendimento está feito assim. Necessita de contrastes, de confrontos, de demarcações, de oposições.

Uma coisa, uma ideia ou um sentimento só se determinam na sua individualidade na precisa medida em que negam outras coisas, ideias, ou sentimentos.

Pensei nisto ao ver a virtualmente invisível campanha da PT Comunicações construida em torno da frase: «Há um mundo que nos liga».

A mesmice não comunica. O lugar comum não comunica. O estereotipo não comunica.

A frase é completamente vazia, não sabemos exactamente que valor lhe atribuir, admitindo que tenha qualquer valor.

As fotos exprimem emoções requentadas, se é que faz sentido usar a palavra emoções. Os nosso albuns de família contêm dezenas de fotos com mais calor humano do que aquelas.

Não há ali nenhuma surpresa, nenhum story-appeal, nada que nos incite a parar e conceder-lhe um instante que seja de fugidia atenção, quanto mais guardá-la na memória e comentá-la com alguém.

Em resumo: é um navio que passa silencioso e desapercebido no meio do nevoeiro


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