8.9.03

O persuasor oculto. Os lisboetas depararam há alguns dias com publicidade outdoor colocada nas ruas Braancamp e Camilo Castelo Branco (não sei se haverá também noutros sítios) que diz mais ou menos o seguinte: “Espero que tenha reparado. A Rua Xis foi pavimentada.”

Deixando de lado o aspecto especificamente político da coisa, sou de opinião de que se trata de um exemplo de boa técnica publicitária.

Não há dúvida de que, se ninguém nos chamar a atenção, somos capazes de não notar que a rua foi repavimentada. Ao fim e ao cabo, o que se exige é exactamente que o piso das ruas esteja em bom estado. Nunca é demais chamar a atenção para o óbvio, porque fazê-lo é puxar aquilo que anunciamos para o centro das atenções, é destacá-lo de um fundo indiferente de acontecimentos de que não nos damos conta.

Essa é precisamente uma das funções básicas da publicidade: levar os consumidores a atentarem durante alguns segundos em algo por norma muito pouco importante para as suas vidas e que, por conseguinte, facilmente passaria desapercebido.

Além disso, mesmo que já tivéssemos notado que o piso da rua foi melhorado e que o tivéssemos apreciado, os mencionados cartazes cumpririam ainda assim a função de reforçar essa observação e de recordar que, se beneficiamos de uma condução sem sobressaltos, à Câmara Municipal de Lisboa o devemos.

Ou talvez não precisamente à Câmara, dado que o cartaz está escrito na primeira pessoa do singular: “Espero que já tenha reparado.” Quem fala connosco não é, portanto, uma entidade abstracta, a saber a Câmara, mas uma pessoa concreta, alguém que vela por nós e nos cumprimenta ao passarmos pela rua. Será preciso dizer o seu nome?

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