Já tenho idade para me lembrar do primeiro Rock in Rio, cujo nascimento acompanhei mais ou menos de perto, nos idíssimos de 1980.
Na época, uma amiga mais lúcida do que eu falava daquilo como o triunfo do marketing. Durante 3 dias, milhares de pessoas vindas do Brasil inteiro (e é grande), tendo pago caro por um bilhete, deixavam o seu carro a quilómetros, andavam até um grande lamaçal e lá passavam algumas horas à chuva, a ver, num palco lá longe, uma programação musical bastante discutível, que de todo modo não se conseguia ouvir. Ficaram aborrecidas com isso? Fale com qualquer um que lá tenha estado e vai ouvir falar com saudade de um grande acontecimento, de um momento inesquecível da sua juventude.
A minha amiga falava do triunfo do marketing de forma pejorativa: está a ver como se consegue manipular uma multidão? Hoje, ao ver o Rock in Rio chegar a Lisboa, quase 20 anos depois e com o nome da cidade original (!), concordo que é o triunfo do marketing, mas não com o juízo de valor. Aquelas pessoas não foram manipuladas. O Rock in Rio deu certo porque deu àquele público exactamente o que ele queria. Algum rock, com certeza, mas não era isso o essencial.
O essencial é que todos nós queremos poder dizer mais tarde que participámos de algo grande. "Grande" estava, e na versão Lisboa constato que ainda está, no DNA do Rock in Rio. A meses de começar, o evento já é comentado como "o maior" do ano, de sempre, e por aí vai. A promoção tão antecipada, as grandes marcas que aderem, tudo isso contribui para reforçar essa imagem.
Eu vou? Provavelmente não. Mas seguramente vou estar outra vez muito atento ao Rock in Rio, para ver se aprendo mais qualquer coisa sobre marketing.
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Há 4 anos
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