11.1.04

Já vi este filme

Nada como uma longa viagem de avião para a gente ver uns filmes que nunca iria ver de outra forma. Foi assim que assisti, do início ao fim, The Fighting Temptations: uma sequência ininterrupta de bobagens em que só o que vale é a banda sonora, para quem gosta do género. Uma das bobagens, mas essa interessante de registar, é a caricatura que o filme faz da publicidade e dos seus praticantes. Nada de novo: apenas o velho estereótipo que faz de Madison Avenue o laboratório onde alguns brilhantes aprendizes de feiticeiros, regiamente pagos e muito amigos de charutos e "corner offices", se dedicam alegremente à arte de ludibriar o público. O filme todo, aliás, está construído sobre a oposição entre esse mundo artificial e falso – sujeito às perversas manipulações dos publicitários – e o mundo das pessoas "autênticas", que moram no sul, cantam gospel e são fiéis aos seus sentimentos. Uma tolice? Claro, mas sintomática. Lá por ser caricaturada com traços tão primários, não deixa de ser a visão mais corrente sobre esta nossa actividade. Uma visão tão enraizada e persistente que não adianta argumentar com ela. O que é preciso é nunca deixar de a ter em conta.

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