E o que tem isso a ver com a nossa "overcommunicated society"? Segue uma teoria.
O ideal de beleza feminina do Ocidente já teve como fisionomia a inocência, mais recentemente a entrega desfalecente ou provocadora. Nos últimos anos fixou-se na indiferença.
Aquelas adolescentes que desfilam na passerelle a sua voluptuosa magreza já não têm a boca entreaberta como quem está à beira de um orgasmo. Planam acima ou ao lado de tudo em absoluta catatonia. Nada lhes interessa. Nada as afecta. Podem explodir bombas, rebentar rebeliões como na Nigéria, no início deste ano, elas não estão nem aí. Quando se constata o massacre já embarcaram para Londres, já estão 8500 metros acima de qualquer emoção terrena. Cool.
Os nossos modelos são assim. Donde nós, que imitamos os modelos, também somos assim. E porquê? Porque se não soubermos ser cool, frios, indiferentes, não estaremos preparados para viver num mundo tão saturado de estímulos.
Numa aldeia de África, num bairro pobre da Bahia, no acampamento dos ciganos, ou mesmo, residualmente, em alguns cantos desta nossa Europa do sul, as pessoas são espalhafatosas, riem ou choram alto e na rua, comentam cada acontecimento, respondem com um abraço ou uma praga à chegada de qualquer estranho.
Nas ruas apinhadas do Ocidente desenvolvido nada disso é pensável. O ruído, o espalhafato está todo nos jornais, nas televisões, no "mercado" barulhento e hipersensível. Quanto às pessoas, o bonito é não se espantarem, nunca mostrarem o que sentem, não responderem a provocações. Passam pelos piropos, pelos paparazzi, pelas rivais, pela sandália que se parte diante das TVs do mundo, pelo que dizem as revistas, pelas modas, pelas guerras civis, pelos genocídios, sem nunca piscarem um olho. Isso é que é ser cool.
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Há 4 anos
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